Título: Países em crise recebem menos dinheiro
Autor: Cucolo, Eduardo ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2012, Economia, p. B4

Queda da remessa de lucro para países em crise pode ser sinal de que multinacionais estão apostando no Brasil

A queda no envio de lucros atinge praticamente todos os países com investimentos no Brasil. Mas, curiosamente, mercados em forte crise registram os piores desempenhos. No primeiro semestre, as transferências para a Itália e Reino Unido caíram mais de 70%. As remessas para a Espanha diminuíram quase 60% e ao redor de 30% para os EUA. Os quatro países são sede de importantes empresas de telecomunicações, bancos e montadoras que operam no Brasil.

Entre as grandes multinacionais que operam no País, Santander eTelefônica são espanholas, Fiat eTIM são italianas, HSBC é inglês e General Motors e Ford são norte-americanas, para citar algumas. Espanha, Itália,Reino Unido e EUA são, ao mesmo tempo, quatro dos países que mais têm sofrido com a crise financeira global.

Mesmo com a eventual necessidade de ajudar as matrizes, filiais de multinacionais desses países têm diminuído as transferências.A desaceleração da economia brasileira explica parte dessa queda.Outra razão é a desvalorização do real no primeiro semestre, fato que transforma o mesmo lucro em reais em menos dólares ou euros.

Aposta. Mas há um terceiro fator.Ainda que pareça um paradoxo, essa queda também pode mostrar uma aposta das multinacionais no Brasil.O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização (Sobeet), Luís Afonso Lima, lembra que a desaceleração da economia e o câmbio afetaramas remessas de todos os setores de forma quase uniforme. O economista afirma, porém, que a falta de crédito externo – especialmente aos países em cri-sepode ter levado algumas matrizes a decidir manter lucros no Brasil para não comprometer projetos futuros no País. "Em 2009, existia a estratégia de aumentar o investimento aqui, mas a situação era tão pior que a decisão foi remeter o lucro mesmo assim. Se não, não haveria mais matriz", afirmou. "Hoje, as matrizes não estão precisando desesperadamente desse recurso e têm possibilidade de retê-los aqui."

Contribuição menor. Mesmo com alguns projetos à frente, o fato é que a contribuição do Brasil nos lucros das grandes multinacionais diminuiu. Nas montadoras, por exemplo, balanço trimestral da General Motors mostra que a entrega de veículos na filial brasileira caiu 18% de janeiro a março de 2012 na comparação como último trimestre de 2011, o que afetou a rentabilidade da unidade. Além disso, a empresa cita que o efeito da desvalorização do real e também do peso argentino no primeiro trimestre gerou uma perda de US$100 milhões à companhia.

Na italiana Fiat, a queda das vendas foi destacada no balanço da sede e o texto também cita perdas pela variação cambial. Um exemplo aconteceu no recebimento de recebíveis – que é a antecipação de receitas futuras. Segundo o documento, foram perdidos €43milhões de janeiro a março penas pelo enfraquecimento do real. / F.N. e E.C.