Título: Remessa de lucros é a menor em 3 anos
Autor: Cucolo, Eduardo ; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2012, Economia, p. B4

Montante enviado para o exterior no primeiro semestre é 30% inferior ao do mesmo período de 2011; câmbio e lucro menor de multinacionais explicam a queda

A alta do dólar e o ganho menor de empresas estrangeiras que atuam no Brasil derrubaram a remessa de lucros para o exterior no primeiro semestre de 2012. O resultado apurado foi o menor para o período desde a crise de 2009. Esse movimento foi puxado não só pelo setor industrial,no qual se destaca a perda de fôlego das montadoras. Houve também forte queda nas remessas do setor de serviços, principalmente de bancos e companhias de telecomunicações.

Dados do Banco Central mostram que,nos primeiros seis meses do ano, foram enviados para o exterior US$ 9,6 bilhões em lucros e dividendos, 30% menos que em igual período de 2011. A queda se deu praticamente na mesma proporção no setor industrial e no de serviços. Na semana passada, ao divulgar os números, o BC atribuiu o movimento à desaceleração da economia brasileira, que afetou o lucro das empresas, e também ao câmbio, pois o dividendo em reais está sendo trocado por uma quantidade menor de dólares, moeda na qual é feita a remessa para o exterior.

Sozinhas, as montadoras responderam por metade da redução nessas operações. Essas empresas, que até o ano passado lideravam o ranking de remessas, cortaram em 72% o envio de dinheiro para as matrizes e caíram para a terceira posição na primeira metade deste ano. Analistas do setor dizem que o número reflete a lucratividade menor dessas empresas, como aconteceu em 2009, quando as vendas também despencaram e o governo anunciou medidas de desoneração para veículos – o que acabou acontecendo novamente neste ano.

Fatores. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) diz que vários fatores podem influenciar o movimento de remessa de lucros, como a manutenção de recursos no País para investimento, a estratégia de cada empresa e aplicações no mercado nacional. "Em um período de curto prazo não é possível relacionar o movimento com conjuntura ou eventual tendência de mercado ou de resultados das empresas", diz a entidade em nota.

Para o diretor do Centro de Estudos Automotivos, Luiz Carlos Mello, a queda nas remessas não está relacionada ao direcionamento de recursos para investimentos no País. "Essas afiliadas promovem a remessa em função do seu resultado.Como o ganho não está sendo tão substancial este ano,esse fluxo diminui naturalmente", diz Mello.

No setor de serviços, a maior queda nas remessas se deu em duas áreas cujas empresas estão na mira do governo: teles e bancos. As empresas de telefonia, que no ano passado enviaram valor recorde de dólares para as matrizes, reduziram em 64% essas operações nos primeiros seis meses de 2012, retornando ao padrão verificado antes. O diretor executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e Serviço Móvel (SindiTelebrasil),Eduardo Levy, reconhece que o setor sofre com a desaceleração da economia, mas afirma que as remessas menores também podem ser resultado de outros dois fatores: aumentodos investimentos e grande concorrência no setor – fato que reduz a receita das companhias.

As instituições financeiras estrangeiras que atuam no País também reduziram significativamente o envio de dinheiro para as matrizes – 41%menos que no início de 2011. Mesmo assim, os bancos ficaram na liderança do ranking de maiores remetentes de lucros para o exterior, superando as montadoras.

Câmbio. Apesar de ser reflexo dos efeitos da crise externa no Brasil, analistas destacam que a queda nas remessas contribuiu para reduzir a saída de moeda do País. Deve compensar ainda, pelo menos parcialmente, a entrada menor de recursos externos por conta da queda nas exportações. O Credit Suisse Brasil, por exemplo, reduziu a previsão para as remessas neste ano de US$ 36 bilhões para US$ 25 bilhões, devido à queda nessas operações no primeiro semestre, à expectativa de crescimento menor do País e à alta do dólar. A retomada do crescimento econômico deve contribuir para o aumento no envio de lucros para o exterior,mas o banco não prevê retornar aos níveis de 2010, quando o País cresceu 7,5% e foram remetidos US$ 38 bilhões.

No Santander, a fatia do lucro gerado pela filial brasileira diminuiu de 28% em 2011 para 26% no primeiro semestre deste ano. No balanço da sede, a instituição destaca que,entre todos os grandes mercados em que o banco espanhol opera, o real foi a moeda que sofreu a maior desvalorização no semestre. Além disso, o texto cita a desaceleração da economia e os impactos negativos no investimento e operações de comércio exterior.

Corte

72%

foi o corte feito pelas montadoras no envio de dinheiro para suas matrizes. Por conta disso, essas empresas responderam sozinhas por metade da redução das remessas para o exterior

64%

foi a queda registrada pelas empresas de telefonia nas remessas para o exterior ao longo dos seis primeiros meses de 2012. No ano passado, essas empresas enviaram valor recorde de dólares para as matrizes