Título: Efeito da taxa cambial nos investimentos estrangeiros
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2012, Economia, p. B2

Numa fase em que a indústria nacional se mostra estagnada e não investe, ou pouco investe, a vinda de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) surge como tábua de salvação. Mas a entrada de IEDs pode não trazer todas as vantagens que se imagina.

É preciso levar em conta o efeito da desvalorização cambial sobre o interesse dos investidores estrangeiros, num período extremamente curto, e que permitiu a eles quase dobrar, em reais, o capital a ser investido. Diante de mudança tão rápida, não se pode estranhar o aumento da disposição das multinacionais em investir no Brasil.

O País é considerado no exterior um grande mercado, principalmente a partir da ampliação da distribuição de renda que houve nos últimos anos. Por outro lado, a política dos governos petistas, dando prioridade à expansão do consumo, sem temer o uso de muitos incentivos com esse objetivo, estimulou ainda mais os interesses externos no nosso mercado doméstico.

Soma-se a isso o fato de que, na economia mundial atual, são escassas as oportunidades de grandes negócios e existe um excesso de liquidez, o que torna os investidores ainda mais propensos a investir no Brasil. A forma mais simples e direta é a compra de uma empresa nacional já em funcionamento, em que uma injeção não muito grande de capital pode aumentar significativamente sua eficiência. Esse tipo de aporte de capital interessa ao Brasil, uma vez que representa entrada de divisas que ajudam a cobrir o déficit em transações correntes do balanço de pagamentos.

Num certo aspecto, pode ser mais interessante do que a implantação de uma nova montadora de carros que mais tarde passará a pleitear isenções fiscais para forçar a venda de um produto cujo mercado já está fortemente saturado e que dificilmente poderá ser exportado, uma vez que os concorrentes externos têm melhores condições para isso.

Por isso o tipo de investimento estrangeiro que pode ter a melhor acolhida no País é aquele que representa a implantação de novas unidades de produção, criando não só mais empregos, mas aportando um conteúdo tecnológico inovador e importante. Nesse campo, as necessidades do Brasil são praticamente ilimitadas.

Como se vê, não se trata, em absoluto, de recusar investimentos estrangeiros que, de qualquer modo, apresentam vantagens, mas de procurar direcioná-los para onde são mais importantes e necessários e de estar conscientes de que nem todos eles representam a salvação da economia num momento de dificuldades.