Título: Indústria desacelera em vários países
Autor: Lago, Andréia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2012, Economia, p. B3

Alemanha, EUA e Reino Unido têm os mais baixos níveis de produção em três anos

A divulgação de números da rodada global de índices de atividade industrial iniciada durante a madrugada na Ásia (horário de Brasília) e concluída na manhã de ontem, nos Estados Unidos, não deixou margem para dúvidas: a desaceleração da economia se espalhou mundo afora.

Os índices de gerentes de compras, mais conhecidos como PMIs (na sigla em inglês), compilado pelo instituto Markit, mostraram enfraquecimento de Taiwan à Alemanha, da Índia à Espanha, da China aos EUA em julho. Mesmo nos países em que há dois índices semelhantes apurados e um deles mostrou melhora, como nos EUA e China, a alta é tão pequena que não neutraliza a piora generalizada observada em diversas economias.

Europa. Nos países onde a fraqueza da economia já é conhecida, os PMIs divulgados ontem confirmam que não há melhora à vista. Na Europa, por exemplo, a piora nos números só é exceção na Irlanda, que vem se sustentando acima de 50. Segundo o indicador número abaixo de 50 indica contração e número acima de 50 indica expansão.

O setor industrial da Alemanha se contraiu em julho no maior ritmo em mais de três anos. O PMI do país caiu para 43,0 em julho, nível mais baixo desde o pico da crise financeira global, em junho de 2009, ante 45,0 no mês anterior.

"O número do PMI industrial da Alemanha caiu em julho para a posição do bronze no ranking das quatro principais economias da zona do euro", disse o economista sênior do Markit Tim Moore. Na Itália, o PMI caiu de 44,6 em junho para 44,3 em julho. Melhora modesta foi observada na Espanha, de 41,1 para 42,3, ou seja, ainda muito fraca.

No Reino Unido, a queda foi maior do que o esperado e empurrou a atividade ao menor nível desde maio de 2009.

EUA. O setor industrial dos Estados Unidos cresceu em julho no ritmo mais lento em quase três anos, uma vez que a crise da dívida na Europa e as incertezas econômicas e políticas no país prejudicam a demanda.

A leitura final do PMI de julho atingiu 51,4, abaixo tanto da preliminar de 51,8 quanto da leitura de junho de 52,5. Foi a leitura mais baixa desde setembro de 2009. Se a queda das encomendas de exportação e a demanda doméstica mais fraca persistirem, o setor pode começar a registrar contração no terceiro trimestre, disse o economista-chefe do Markit, Chris Williamson.

"Os produtores estão sendo afetados pela contínua crise da zona do euro, crescimento econômico global mais lento e crescente inquietação sobre a demanda no mercado doméstico conforme as eleições se aproximam e pesam as incertezas sobre as políticas monetária e fiscal", disse Williamson.

Nos EUA, também o ISM, outro indicador que acompanha o ritmo de atividade medido pelo Institute for Supply Mangement da Markit, mostrou que a economia americana continua patinando em território contracionista. O ganho modesto de 49,7 para 49,8 entre junho e julho no ISM confirmou que a forte queda do indicador em junho não foi um apenas um soluço. "As novas encomendas continuaram em território negativo, num sinal de que a fraqueza nas condições globais de manufatura, e agora estão no menor patamar desde abril de 2009, quando a economia estava em recessão", ressalta o economista Jeremy Lawson, do BNP Paribas em Nova York.

China. O PMI oficial do setor industrial chinês caiu para 50,1 em julho, mínima de oito meses que sugere que o setor está crescendo pouco, enquanto a pesquisa do HSBC indicou que o setor privado está começando a se recuperar. O PMI do HSBC, compilado pelo instituto Markit, subiu para 49,3, o maior nível desde fevereiro.

Com ambas as leituras em torno de 50, que divide expansão de contração, as pesquisas sinalizam que as áreas privada e estatal chinesas estão se estabilizando - embora em nível de expansão relativamente baixo.

"Está claro que o setor industrial tem um desempenho bastante fraco, mas queremos destacar o fato de que tais níveis de sentimento ainda são consistentes com o crescimento positivo da produção industrial", disse o economista sênior do Credit Agricole-CIB Dariusz Kowalczyk./COLABOROU REUTERS