Título: Possibilidade de rombo maior amplia cautela com bancos médios
Autor: Decloedt, Cynthia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2010, Economia, p. B4

Expectativa de prejuízo bem maior que o estimado inicialmente aumenta taxas de CDBs nas últimas semanas

Grandes gestoras de recursos e fundos de pensão redobraram a cautela para comprar papéis de bancos médios desde a intervenção do Banco Central no Cruzeiro do Sul. O reflexo maior ocorreu nas taxas do Certificados de Depósitos Bancários (CDB) que subiram nas últimas semanas.

Com a expectativa de que o rombo será bem maior que o inicialmente estimado, o custo de captação pode voltar a subir, avaliam gestores, executivos de fundos de pensão e de bancos médios ouvidos pela Agência Estado.

Antes da intervenção do Cruzeiro do Sul, decretada pelo Banco Central em 4 de junho, os bancos médios estavam pagando taxa média de 105% a 107% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) para emitir CDBs. Nas últimas semanas, as taxas subiram para 109% a 111% do referencial, segundo executivos de bancos médios, fundos de investimento e fundos de pensão ouvidos pela Agência Estado.

Esta semana, após o Estado revelar que o rombo já está na casa dos R$ 2,5 bilhões, as taxas tiveram nova alta, embora em menor magnitude, chegando à média de 112% do CDI. As taxas médias do mercado estavam hoje em 102,8% do CDI para um CDB de dois anos, considerando uma média da rentabilidade de grandes e pequenos bancos elaborada pelo AE Taxas.

Segundo uma fonte de uma grande gestora, o fato de não se saber o rombo exato do banco aumenta a intranquilidade no mercado em relação aos bancos médios. Quem tinha papéis do Cruzeiro do Sul, diz o executivo, não sabe o tamanho das perdas que terá de arcar, especialmente com o temor de que o banco terá de ser liquidado pelo BC. Além disso, há a preocupação de que outros bancos menores podem ter problemas semelhantes ou necessitam de injeção de capital.

Fundos de pensão e gestoras de recursos, que antes buscavam ganhos maiores comprando papéis de bancos médios, estão preferindo a segurança de CDBs de grandes instituições, como Bradesco e Itaú, que pagam menos (de 100% a 102% do CDI), com risco muito menor. "Estamos receosos com crédito em geral, mas principalmente o de segunda linha. Embora os bancos médios estejam pagando mais para captar, as gestoras estão dando preferência aos papéis de primeira linha", destaca o diretor de uma grande gestora, que preferiu não se identificar.

Além dos CDBs de grandes instituições financeiras, os papéis dos bancos médios no mercado têm tido concorrentes importantes. Os gestores relatam que nos últimos meses aumentou muito a oferta de debêntures emitidas por empresas, especialmente em operações voltadas somente a um pequeno grupo de investidores. No primeiro semestre, lançaram R$ 25 bilhões.

Um alento recente aos bancos médios foi dado pelo BC, ao editar no começo do ano uma regra que aumenta a parcela do depósito compulsório dos grandes bancos que fica sem remuneração. O objetivo é estimular a compra de ativos de instituições menores, com rentabilidade maior.