Título: Cotistas do Cruzeiro do Sul vão à Justiça
Autor: Decloedt, Cynthia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2010, Economia, p. B4

Investidores aplicaram, sem saber, em papéis de empresa da família Índio da Costa

Um grupo de cotistas do fundo BCSul Verax 5 Platinum pretende entrar com ação judicial para impedir a possível liquidação do fundo, de patrimônio estimado em R$ 250 milhões, em assembleia convocada para 30 de julho.

Com a intervenção do Banco Central no banco Cruzeiro do Sul, no dia 4, os cotistas foram surpreendidos com a informação de que seus recursos, em vez de investidos em recebíveis de crédito consignado, foram colocados em debêntures de uma empresa de Luiz Octavio Índio da Costa e seu pai, Luiz Felippe Índio da Costa, a Patrimonial Maragato. O fundo Equity, de patrimônio de cerca de R$ 200 milhões, também tinha os recursos em debêntures da empresa.

Os cotistas dizem que pediram a assembleia para esclarecer a situação do fundo e receberam um comunicado de convocação em que estavam incluídas na pauta a destituição ou substituição do administrador e a liquidação antecipada do fundo.

Eles afirmam ainda que o pedido da assembleia foi feito porque os administradores do fundo alegaram desconhecer a situação patrimonial da Maragato e não responderam a questionamentos sobre os recursos. Os cotistas dizem que ficaram sem as respostas em reunião com os administradores da BCSul Verax Serviços Financeiros, Marcelo Xandó e Marcio Dreher, empresa responsável por esse e outros 16 fundos, após descobrir o verdadeiro destino dos recursos.

A administradora do fundo Verax Serviços Financeiros confirmou, por e-mail à Agência Estado, que os cotistas pediram a assembleia, mas os itens da pauta "foram definidos, também, pelos próprios cotistas".

Os cotistas BCSul Verax 5 Platinum temem também que a família Índio da Costa, por meio de outros cotistas, vote pela liquidação antecipada do fundo e dê o caso por encerrado. Com exceção dos fundos de recebíveis em empréstimos consignados, que eram lastreados por empréstimos feitos pelo Cruzeiro do Sul, os demais fundos administrados pela BCSul Verax não devem ser garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

"O Luiz Octavio dizia a todo momento que o fundo era dele e que quem não acreditasse no fundo não acreditava no Cruzeiro do Sul", disse um cotista que não quis se identificar. Os cotistas, clientes de alta renda do Cruzeiro do Sul e gerentes da instituição, alegam que não sabiam que seus recursos estavam sendo aplicados em debêntures da empresa Maragato Patrimonial e que, pelo relacionamento que muitos tinham com os administradores, acreditavam que seus recursos estavam no banco.

"De jeito nenhum ia investir meu dinheiro no papel de uma empresa com patrimônio inicial de R$ 50 mil", diz um cotista.

Outro ponto polêmico é o fato de que, embora o fundo seja do tipo FIP (Fundo de Investimento em Participações), a liquidez era diária. "Os gerentes captavam o dinheiro dizendo ser para aplicações no Cruzeiro do Sul Verax, e durante dez anos apliquei e saquei na hora", disse o cotista.

Procurados, Luiz Otávio Índio da Costa e Luiz Felippe Índio da Costa não foram encontrados pela reportagem.