Título: Diretor deixa o cargo após denúncia de lavagem de dinheiro do tráfico no HSBC
Autor: Capovilla, Anna
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/07/2012, Economia, p. B7

Executivo disse a uma subcomissão do Senado americano que não estava totalmente a par das transações ilícitas que ocorriam no banco 18 de julho de 2012 | 3h 09 Notícia A+ A- Assine a Newsletter MARCY GORDON, ASSOCIATED PRESS / WASHINGTON - O Estado de S.Paulo O chefe do departamento de Governança Corporativa e Risco do banco britânico HSBC, David Bagley, anunciou ontem a uma subcomissão do Senado americano, que entregará o cargo após a divulgação de que a entidade contribuiu nos Estados Unidos em operações de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e financiamento do terrorismo.

Bagley e outros atuais e antigos executivos da instituição pediram desculpa pelas falhas, mas declararam que não estavam totalmente a par das transações ilícitas que ocorriam pelo banco. Os senadores mostraram-se céticos quanto à possibilidade de os executivos desconhecerem problemas que existiam havia sete anos na instituição.

Um relatório apresentado pela Subcomissão Permanente do Senado para Investigações também constatou que os órgãos reguladores americanos sabiam que o banco não dispunha de um sistema adequado para detectar problemas, mas não tomaram nenhuma providência.

Bagley é diretor de Compliance (Conformidade) desde 2002, o período durante o qual - descobriu a investigação do Senado - a falta de controles adequados do HSBC permitiu que o banco fosse usado por narcotraficantes e possíveis financiadores de grupos terroristas, e para outros fins ilícitos em todo o globo.

O executivo disse que não tinha autoridade total sobre as afiliadas do banco, cada uma das quais tinha seu próprio diretor de Compliance. O HSBC, que em 2011 obteve rendimento líquido de US$ 16,8 bilhões, opera em cerca de 80 países. "O HSBC não atendeu às nossas expectativas e às expectativas dos nossos órgãos reguladores", afirmou Bagley em seu depoimento.

E acrescentou que disse à direção do HSBC: "Este é o momento oportuno - para mim e para o banco - para colocar uma pessoa nova no cargo de diretor de Compliance".

O executivo, que dirigiu a afiliada mexicana da instituição em 2007 e 2008 disse que tentou eliminar as deficiências que encontrou na operação.

"Acredito que fizemos progressos concretos no HSBC México durante meu breve mandato", afirmou Paul Thurston. Entretanto, acrescentou: "Sabemos que deveríamos ter feito muito mais, bem mais cedo".

Os executivos declararam que o banco empreendeu profundas modificações em sua política e na cultura corporativa para impedir a utilização ilícita do banco. O HSBC, o maior banco europeu, sediado em Londres, mudou os quadros superiores da administração no ano passado.

O senador Carl Levin, democrata de Michigan e presidente da subcomissão, desafiou Thurston. "As pessoas sabiam que isso estava acontecendo nesse banco", disse Levin. "Por que permitiram que a coisa continuasse?" Thurston disse que o banco mexicano, adquirido pelo HSBC em 2002, foi um banco de "rápido crescimento" que não dispunha de controles contra lavagem de dinheiro.

O senador Tom Coburn de Oklahoma, representante da bancada republicana na comissão, afirmou que achava difícil acreditar que os executivos do HSBC desconhecessem o que estava acontecendo.

A CEO da divisão americana do HSBC, Irene Dorner, também pediu desculpas pela supervisão falha. "Lamentamos profundamente e pedimos desculpas" pelas falhas do HSBC. A divisão americana está entre os dez maiores bancos que operam nos Estados Unidos. E tem ativos por um total de cerca de US$ 210 bilhões em suas operações americanas.

As mudanças introduzidas pelo banco "serão incorporadas e ininterruptas", disse Dorner. "Estamos queimando as pontes para ter a certeza de que ninguém poderá voltar da maneira como era antes."

Stuart Levey, ex-funcionário de alto escalão do Departamento do Tesouro que ingressou no HSBC em janeiro como diretor do departamento jurídico, disse que em abril o banco adotou normas de supervisão mais rigorosas em todas as afiliadas.

Segundo Levin, as novas políticas adotadas pelo banco britânico "são excelentes medidas". Entretanto, afirmou, embora os pedidos de desculpas sejam aceitos, "a necessidade de responder pelas próprias ações é essencial como elemento dissuasor e ela faltava".

Ele citou exemplos, em anos passados, em que o HSBC - depois de sofrer sanções dos reguladores - prometera eliminar as deficiências, mas não o fez.

Segundo Levin, o HSBC precisa identificar qual de suas afiliadas representa grave risco de problemas e colocá-las sob controle rigoroso. O banco deveria pensar na possibilidade de fechar a conta de sua afiliada mexicana, acrescentou. O HSBC deveria fechar também suas contas com bancos suspeitos de fornecer recursos para grupos terroristas, na sua opinião.

O relatório da subcomissão mostra que algumas afiliadas driblaram as proibições do governo americano contra transações financeiras com o Irã e outros países. E a divisão americana forneceu dinheiro e serviços bancários a bancos na Arábia Saudita e em Bangladesh que teriam ajudado a financiar a Al-Qaeda e outros grupos terroristas.

O Departamento de Justiça dos EUA informou que está realizando uma investigação criminal nas operações do HSBC, mas não confirmou se o banco está em conversações para chegar a um acordo. A lavagem de dinheiro repassa os lucros com o tráfico de drogas, de armas e com outras atividades ilícitas para contas bancárias para disfarçar a atividade criminosa.

Levin também criticou a agência federal que supervisiona as operações americanas do banco, o Escritório do Controlador da Moeda. Segundo ele, a agência "tolerou" durante anos os controles negligentes do HSBC sobre a lavagem de dinheiro. Thomas Curry, chefe do Escritório do Controlador, também deveria depor na audiência de ontem.

A conformidade da política de negócios com as leis contra a lavagem de dinheiro "é crucial para os esforços da nossa nação no combate à atividade criminosa e ao terrorismo", disse Curry em um documento. A agência, afirmou, confia que os bancos tenham programas adequados para poderem cumprir as leis.