Título: Filho de Paulinho deixa gestão Alckmin; Corregedoria vai apurar ação paralela
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2012, Nacional, p. A4

Alexandre Pereira da Silva, filho do candidato à Prefeitura pelo PDT, o deputado Paulo Pereira da Silva, deixou ontem a Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho, onde comandava um escritório paralelo. Apresentado como "coordenador", ele recebia prefeitos e decidia sobre a aplicação de recursos de programas da pasta sem ocupar cargo formal.

A saída de Alexandre ocorreu ontem após o Estado revelar a existência da estrutura paralela.Também filiado ao PDT, o filho do presidente licenciado da Força Sindical chefiava na prática a Coordenadoria de Operações da pasta, responsável por 243 postos de atendimento a trabalhadores, uma importante vitrine eleitoral no interior paulista.

Alexandre tinha gabinete e secretária. No papel, no entanto, o cargo era ocupado por Marcos Wolff, um funcionário de carreira sem ligações partidárias.

A secretaria é controlada pelo PDT desde março, após acordo no qual Paulinho indicaria o titular da pasta em troca do apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em 2014.

Alexandre entregou uma carta de demissão ao secretário, o sindicalista Carlos Ortiz, nomeado para o cargo por indicação de seu pai. Segundo o governo estadual, Alexandre trabalhava na secretaria como funcionário contratado da Fundac (Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação), que tem dois contratos com a pasta para assistência técnica à coordenação de políticas de emprego e renda.

Alckmin determinou que a Corregedoria-Geral da Administração, ligada à Casa Civil, investigue a atuação de Alexandre na pasta e as nomeações de pessoas ligadas ao PDT. De acordo com levantamento feito pelo Estado, pelo menos 8 dos 21 Centros Regionais estão dirigidos por pessoas ligadas ao partido, nomeadas depois de Ortiz assumir a secretaria em março.

O artigo 5.º, da lei estadual 1.080 de 2008, diz que para assumir o cargo de diretor técnico, para os quais os pedetistas foram nomeados, deve ser comprovada "experiência profissional de, no mínimo, quatro anos em assuntos relacionados com as atividades a serem desempenhadas".

A secretaria afirma que "todos (os nomeados) têm ou tiveram atuação no movimento sindical ou no serviço público" e que "as indicações foram realizadas atendendo a dispositivos legais".

Apesar de ter dito publicamente que não havia irregularidades na contratação de Alexandre (leia texto abaixo), Alckmin pediu explicações a Ortiz sobre a atuação do filho de Paulinho e determinou que ele fosse afastado o quanto antes da pasta.

Alexandre não é o único integrante da cúpula do PDT que atua diretamente na secretaria. O chefe de gabinete da pasta, Cristiano Vilela de Pinho, é assessor jurídico do partido e genro de Paulinho. Luciano Martins Lourenço, ex-assessor do candidato à Prefeitura, também ocupa um cargo de coordenação.

Relações. A Fundac, que contratou formalmente Alexandre, recebeu R$ 3,7 milhões da Secretaria de Emprego neste ano. A entidade, que diz ser sem fins lucrativos, firmou dois contratos, sem licitação, com a secretaria em 2011, quando a pasta era administrada por David Zaia (PPS). Desde então, já recebeu R$ 6,2 milhões dos cofres do Estado. Um contrato é para assistência técnica em programas de qualificação profissional. O outro, para assessoria no Banco do Povo. Em 2011, a Fundac recebeu da Assembleia, sem licitação, a operação da TV da Casa. A entidade atua ainda na TV da Câmara Municipal de São Paulo. Os contratos com as emissoras somaram R$ 27,1 milhões em 2011. / COLABORARAM BRUNO BOGHOSSIAN e FERNANDO GALLO