Título: Presença de Marina em Londres causa mal-estar no governo
Autor: Chade, Jamil ; Carranca, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2012, Nacional, p. A10

Ex-ministra foi alvo de críticas veladas após participação na abertura da Olimpíada

A presença da ex-ministra Marina Silva na cerimônia de abertura da Olimpíada de Londres causou mal-estar no governo de Dilma Rousseff e ataques velados. A participação pegou a todos de surpresa, até Dilma.

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ironizou o convite a Marina, apontando para sua relação com a "aristocracia" europeia. Marina, em entrevista ao Estado, chorou ao saber dos ataques, dizendo que o governo transformou o fato em "disputa política" e admitiu que esperava que Dilma telefonasse para ela a fim de lhe dar os parabéns.

Convite sigiloso. Marina entrou no estádio olímpico carregando a bandeira com os anéis olímpicos, com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o maestro argentino Daniel Barenboim e prêmios Nobel. O convite partiu do Comitê Olímpico Internacional, sem o conhecimento do governo brasileiro, e foi mantido em sigilo. O COI fez a escolha para levar a mensagem ambiental aos Jogos. A ex-ministra é reconhecida por seu trabalho de defesa do meio ambiente.

Mas a situação criou constrangimento porque Marina não tem boa relação com Dilma e encobriu, ontem, a presença da presidente do próximo país-sede da Olimpíada. "Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia europeia", ironizou Rebelo. "Não podemos determinar quem as casas reais escolhem, fazer o quê?" Dilma foi diplomática. "É um orgulho para gente." Mas confirmou que não sabia da surpresa. "Não sabia e não tinha que saber."

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), se disse surpreso. Para ele, o COI deveria ter feito um melhor trabalho de comunicação com o governo brasileiro, para que a escolha fosse oficial.

Tristeza. Ao Estado, Marina comentou que o governo tentou "apequenar" a sua participação na cerimônia, e queixou-se de que a equipe de Dilma "não sabe separar as coisas". "Isso me entristece." A ex-ministra acrescentou que esperava que sua participação tivesse o apoio da comitiva brasileira e, principalmente, da presidente Dilma. Sobre as declarações de Rebelo, Marina disse que prefere "relevá-las" e que gostaria que Rebelo "entrasse no espírito olímpico sugerido por aquela cerimônia".