Título: Voluntários são executados e queimados
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2012, Internacional, p. A12

Ahmed Ajouz, de 23 anos, professor de inglês de Alepo, descreveu ao Estado as circunstâncias que envolveram a morte de três amigos que segundo ele socorriam e levavam remédios à população civil no norte da Síria.

Capturados quando conduziam uma ambulância, eles podem ter sido confundidos com traficantes de armas. Na Turquia, rumores indicam que os carros de socorro também estão sendo usados para suprir os rebeldes do norte do país de armas e munições.

"Em 17 de junho, três jovens desapareceram em Alepo. Todos eram meus amigos. Seus nomes eram Hazem Batikh, meu colega de faculdade de Letras, Moussa Barad e Bassel al-Salam, os dois estudantes do quarto ano da faculdade de Medicina. Eles estavam trabalhando como voluntários, coletando recursos para comprar e distribuir remédios. Estavam apenas ajudando a população. O dinheiro vinha de doações", diz Ajouz.

No dia 17, por volta de meia-noite, eles estavam levando do bairro de Salahadinne um ferido em uma ambulância. Hazem estava dirigindo e chefiando o grupo.

"Havia um posto de checagem do Exército sírio no meio do caminho e, desde então, eles desapareceram e ninguém nos deu informações a respeito de seus paradeiros. Nós insistimos e, então, um homem do serviço de inteligência veio até a gente e nos disse: "Não voltem a perguntar sobre eles". Nós não só perguntamos, como fizemos uma manifestação."

De acordo com Ajouz, os corpos de seus três amigos foram encontrados no dia 24 de junho. "Eles foram executados e depois queimados. Havia buracos de bala em seus corpos, muitos concentrados nos braços. Um deles tinha tido uma perna arrancada. Eram sinais de tortura. Não foi possível reconhecê-los visualmente, só por exames de arcadas dentárias ou por outros sinais. Dias mais tarde, encontramos seus documentos. Eram eles. Eu não estava com o grupo nesse dia. Se estivesse, teria sido morto também."

Na faculdade de Medicina, todos são tidos como heróis. Seus rostos são expostos em cartazes e em panfletos eletrônicos que os estudantes fizeram para denunciar o regime. "Esses crimes seguem ocorrendo muito no regime de Bashar Assad. É com isso que queremos acabar."