Título: Correlação entre voto e tempo de TV é desafio para candidato
Autor: Gallo, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2012, Nacional, p. A10

Russomanno terá 7% da propaganda; em 2008, nas capitais, ninguém chegou ao 2º turno com esse nível de exposição

Com um quarto das intenções de voto neste momento, Celso Russomanno, do minúsculo PRB, terá 7% do tempo de propaganda eleitoral de rádio e televisão em São Paulo. Na eleição passada, nenhum candidato com nível de exposição tão baixo chegou ao segundo turno ou venceu em 26 capitais do País.

Na corrida eleitoral, Russomanno terá de enfrentar não apenas os adversários, mas a matemática: cálculos feitos pelo Estadão Dados com base nas eleições municipais de 2008 mostram que há alta correlação entre proporção de tempo de TV e porcentual de voto na urna.

Além disso, os números indicam que as chances de êxito crescem em proporção geométrica em relação à exposição. Um candidato com cinco vezes mais tempo de propaganda que um determinado adversário pode ter 80 vezes mais chances de chegar ao segundo turno.

Esses dados explicam o clima de leilão em que as alianças eleitorais são negociadas, nas quais cada partido "vale" o que tem de propaganda. Não há exagero nas disputas por apoio: um minuto a mais ou a menos pode, de fato, ser decisivo para o destino de um candidato. Não basta aparecer: é preciso aparecer mais do que os concorrentes.

No caso de São Paulo, o tucano José Serra e o petista Fernando Haddad, cujas coligações são as maiores, terão quase quatro vezes mais acesso ao chamado palanque eletrônico do que Russomanno.

Estatísticas. Para medir a relação entre propaganda e voto, o Estadão Dados mapeou as aparições na TV de todos os 175 candidatos que concorreram a prefeito nas capitais em 2008, e comparou a proporção de exposição aos resultados obtidos.

A correlação entre uma variável e outra foi de 0,84, numa escala que vai de -1 a 1. Em termos estatísticos, quanto mais próximo o resultado for de 1, maior a correlação - considera-se que ela é "forte" quando fica entre 0,70 e 0,89.

Os dados também foram tabulados com base no número absoluto de inserções na televisão que cada candidato ocupou na televisão. As inserções - peças publicitárias de 30 segundos exibidas ao longo dos intervalos comerciais das emissoras de rádio e televisão - são o instrumento mais efetivo do marketing político, pois atingem também a população que "foge" do horário eleitoral fixo ao desligar a televisão ou mudar para os canais pagos.

Os resultados são os seguintes: entre os 93 candidatos com menos de 50 inserções por semana, apenas um chegou ao segundo turno - uma taxa de êxito inferior a 1%. Trata-se de Camilo Capiberibe, que venceu em Macapá com a força do sobrenome - seu pai é João Capiberibe, ex-governador do Estado. Ele teve 9% do tempo de TV na cidade.

Já entre os 14 concorrentes que apareceram em mais de 150 inserções por semana, nada menos que 12 venceram ou se classificaram para a segunda rodada da eleição. A taxa de êxito chegou a 86% (veja quadro).

Russomanno, que atraiu para sua coligação quatro partidos nanicos (PHS, PT do B, PRP e PTN) e um médio (PTB), terá direito a 30 inserções por semana. Já os adversários Serra e Haddad estarão em posição mais confortável, com 109 e 106 peças publicitárias semanais, respectivamente. O candidato do PMDB, Gabriel Chalita, terá 61 inserções.

No Rio, outro candidato de partido pequeno enfrentará os mesmos desafios de Russomanno na TV para se viabilizar. Marcelo Freixo, do PSOL, quer chegar a um eventual segundo turno contra Eduardo Paes (PMDB) - que lidera as pesquisas -, mas terá menos de 5% da propaganda eleitoral.

Palanque. Se o fator televisão é o que mais ameaça as chances de Russomanno, é a ela que o candidato deve sua boa fase nas pesquisas. Até recentemente, ele apresentava o quadro Patrulha do Consumidor, na TV Record, e participava de outros programas da emissora, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus.

O candidato se afastou das telas por causa da lei eleitoral. Concorrente a cargo público não pode fazer campanha ao mesmo tempo em que trabalha na TV.