Título: Depoentes se calam e CPI do Cachoeira continua sem avançar
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2012, Nacional, p. A7

Reinício dos trabalhos é marcado por silêncio de Andressa e de araponga; Katia Abreu ataca mulher de Cachoeira por dossiê

Depois de um mês de recesso, a CPI do Cachoeira retomou ontem os trabalhos sem muito sucesso. Os dois depoentes do dia – Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira,e Joaquim Thomé Neto, acusado de fazer escutas para Cachoeira – optaram pelo silêncio e nada revelaram. A sessão ficou movimentada quando a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) desafiou Andressa a apresentar um suposto dossiê contra ela–que a depoente afirmou possuir, inclusive com fotos, uma semana atrás. Andressa teria dito que a senadora “não saía da casa de Cachoeira e teria pedido dinheiro para a campanha”.

À CPI, a senadora afirmou que recebeu ameaças em seu gabinete de um telefone público localizado em Taguatinga, cidade a 20 quilômetros de Brasília. “É uma tentativa de me amedrontar. Não tenho medo dela ou de seu comparsa”, disse a senadora, que protocolou uma interpelação contra Andressa em Goiânia. “Carminha e Max só na TV. Não vão jogar meu nome no lixão”,completou Kátia Abreu,numa referência à novela Avenida Brasil,da TV Globo. “Mentirosa e cascateira”,acusou a senadora, no momento em que Andressa deixou em silêncio a sala da CPI. Diante do fracasso dos depoimentos de ontem, integrantes da Comissão acreditam que a CPI “está indo para o buraco”. “Parece que a CPI está nos estertores, se esvaindo em sangue”, resumiu o senador Pedro Taques (PDT-MT). “Estamos investigando uma organização criminosa e quanto mais o tempo passa,mais a organização se fecha. Mas não só os depoimentos são o centro de nossa investigação”, minimizou o relator Odair Cunha (PT-MG) .

Agenda.Preocupada com esse esvaziamento, a Comissão pretende elaborar uma agenda de depoimentos até outubro. Uma das propostas é ouvir os depoimentos de Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT),e de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, na primeira quinzena de setembro. Ex-presidente da Dersa, empresa que administra as obras rodoviárias no Estado de São Paulo, Paulo Preto é ligado ao PSDB e,segundo Pagot, teria feito pressões para a liberação de verbas do DNIT para obras do Rodoanel em São Paulo.

Parte dos recursos teria sido usada para abastecer um suposto caixa dois de campanha dos tucanos no Estado. A pressão teria ocorrido em 2009. Com esses depoimentos a CPI espera conseguir dividir os holofotes com o resultado final do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que dará a sentença para os 38 réus acusados. O relator Odair Cunha pretende apresentar seu relatório final na terceira semana de outubro, antes do segundo turno das eleições. O prazo final de CPI está previsto para 4 de novembro.

Demóstenes revê amigos e solta a voz na noite do DF

Cassado pelo Senado por suas ligações com o contraventor Carlos Cachoeira, Demóstenes Torres reapareceu na noite de segunda-feira no restaurante Piantella, tradicional reduto de políticos, e roubou a cena. Depois de ouvir elogios de Luiz Fernando Pacheco, advogado de José Genoino, Demóstenes se animou e soltou a voz, entoando Let Me Try Again, sucesso de Frank Sinatra. Pacheco estava acompanhado de outros advogados que defendem réus do mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao avistar Demóstenes, não se conteve. “O tempo fará justiça e provará sua inocência”, disse ele para o senador cassado, de acordo com relato dos presentes.

Foi nesse momento que Demóstenes – até então intérprete solitário de Minha Namorada,de Vinícius de Moraes – pediu ao pianista os acordes de Let Me Try Again. Seguiu a letra em seu smartphone e foi muito aplaudido. Animado, o advogado de Genoino solicitou em seguida que o pianista também tocasse nada menos que o tema do filme O Poderoso Chefão, composto por Nino Rotta. Foi atendido no ato. José Luís Oliveira Lima, advogado do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, também apareceu para jantar, mas se manteve quieto. Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – defensor do publicitário Duda Mendonça – é sócio do restaurante.