Título: Recuperação industrial em junho com menos estoques
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2012, Economia, p. B2

Os indicadores da Confederação Nacional da Indústria (CNI) completam as informações do IBGE sobre a produção física industrial, com o faturamento real do setor. Este pode refletir a pressão da inflação, as horas trabalhadas, o nível de emprego e a massa salarial real. Os dados de junho sobre maio exibiram um crescimento do faturamento real de 2,9%, superior ao do volume físico, do IBGE, de 0,2%.

A diferença pode ter duas explicações, além do fato de nos dados da CNI não constar a mineração: 1) as empresas industriais, especialmente a automobilística, venderam estoques; e 2) como explica o gerente executivo de Política Econômica da CNI, a indústria nacional, em junho, também usou mais componentes importados com uma taxa cambial que elevou seus preços.

É provável que, com a redução dos estoques, alguns setores que dependem muito dos incentivos do governo, como o setor automobilístico ou o da linha branca, sintam necessidade de reconstituí-los com mais horas de trabalho. De fato, os dados da CNI já indicam uma elevação de 1,8% nesse início da agosto. Entretanto, a elevação do nível de emprego foi de apenas 0,3%, enquanto a massa salarial apresenta redução de 1%, o que sugere que o aumento do faturamento não foi generalizado.

Esse fato mostra um ponto fraco da política industrial: favorece a redução dos estoques sem garantir que a redução se traduzirá por aumento da produção física para formar novos estoques num nível aceitável. Não é, pois, criadora de empregos nem leva as empresas a investir - dada a incerteza sobre o mercado futuro -, quando seria altamente desejável que o setor privado contribuísse com sua parcela para o aumento dos investimentos na economia.

A indústria nacional parece não esperar muito da atual política para o setor. Está mais interessada em fatores como as taxas de juros mais baixas, o que reduz os custos de produção, e taxa cambial mais desvalorizada, que lhe oferece maior proteção. Embora, como já vimos, continue aumentando a importação de componentes para tentar ganhar competitividade.

Na prática, o setor manufatureiro enfrenta problemas estruturais, além de conviver com um ambiente de excesso de oferta no plano internacional. De um lado, arca com custos elevados de logística e de energia; de outro, com carga tributária excessiva. A reação de junho, porém, leva as empresas a acreditar que o segundo semestre será melhor do que o primeiro - sem muita convicção.