Título: Presidente da Petrobrás defende a volta do etanol
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2012, Economia, p. B4

Presidente da Petrobrás defende a 'volta do etanol'

Retomada de produção do etanol, segundo Graça Foster, é a forma de resolver o problema do aumento da importação de gasolina

A solução para o crescente aumento da importação de gasolina está na retomada da produção de etanol no Brasil, declarou ontem a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster. Segundo a executiva, o atual plano de investimentos da estatal não prevê nenhuma nova unidade para aumentar a oferta de gasolina no curto prazo nem contempla a mudança no perfil das refinarias em execução - cuja capacidade estará mais voltada para produção de diesel.

"Sou meio rígida nas questões de mudanças de escopo de projetos. Se fizermos isso agora, teremos mais atraso nas refinarias que tanto precisamos. A forma mais rápida para resolver o problema é a volta do etanol", defendeu Graça, após evento realizado ontem, em São Paulo, pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).

A executiva destacou que todo planejamento da Petrobrás foi feito em cima de um cenário que previa a expansão da produção de etanol no Brasil, o que não ocorreu. Mas ela se mostrou confiante em relação ao futuro: "Há uma expectativa de aumento na oferta do biocombustível a partir do ano que vem. Em 2014, estaria regularizado".

O cenário otimista de Graça, porém, não é compartilhado pela maioria da indústria de etanol, que reivindica o aumento do preço da gasolina. Na avaliação dos usineiros, essa é a única maneira para compensar a escalada do custo de produção e devolver a competitividade do biocombustível no mercado nacional.

Graça disse que tem trabalhado forte para que o etanol volte e acredita que governo e produtores conseguirão, em breve, encontrar uma saída para o problema. "O etanol tem a cara do Brasil. A retomada do setor é para o bem do biocombustível e para o bem dos hidrocarbonetos", disse Graça.

Uma das alternativas levantadas pelo Ministério de Minas e Energia é a elevação da mistura de etanol na gasolina, de 20% para 25%. Mas hoje, se essa mudança ocorrer, o País terá de importar etanol dos Estados Unidos para atender à demanda interna. Por enquanto, o governo não dá sinais de que está disposto a elevar os preços para dar competitividade ao etanol e reforçar o caixa da Petrobrás.

Preço. A presidente da estatal afirmou que o assunto preço está sempre na pauta, mas, no momento, não há nenhuma negociação em curso com o governo para reajuste da gasolina. "É claro que, como produtor, quero volume de venda e preço. Mas nossa política é de longo prazo." Isso significa que a empresa continuará mantendo a posição de adequar os preços internos da gasolina e diesel às tendências do mercado internacional, e não a variações pontuais.

Graça observou que é dever da Petrobrás mostrar a situação financeira da empresa para o acionista controlador, que é a União. Mas ela fez questão de ressaltar que os preços não tiveram peso muito grande no resultado trimestral da companhia - a estatal teve prejuízo de R$ 1,3 bilhão no segundo trimestre do ano. "Não está entre os cinco fatores que mais impactaram o resultado, como é o caso do câmbio, da produção menor e a perda de eficiência operacional."

A executiva destacou que a Petrobrás prepara um plano de redução de custos operacionais, que deve priorizar uma melhor eficiência da empresa. Com isso, uma das melhorias esperadas pela companhia é o melhor gerenciamento das paradas das unidades de produção.

"Falamos em melhoria de eficiência operacional para que não tenhamos paradas não programadas", afirmou Graça Foster. "Paradas programadas não nos preocupam. Está na conta." / COLABOROU ANDRÉ MAGNABOSCO