Título: Segundo semestre com as perspectivas frustradas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2012, Economia, p. B2

A economia brasileira não exibirá, neste segundo semestre, o que o ministro Guido Mantega sonhou e dificilmente terminaremos o ano de 2012 com resultado melhor do que o do ano anterior.

A economia real, representada pelo comércio e a indústria, não se permite ilusões depois dos resultados do mês de julho. O comércio varejista está prevendo uma queda importante das vendas com a retração da demanda, já que a elevação do salário mínimo, em janeiro, não foi suficiente para impulsioná-la, como se acreditava, diante do endividamento elevado das famílias. A indústria está, a cada mês, adiando a sonhada retomada da produção; apenas conseguiu normalizar seus estoques sob as asas protetoras dos incentivos, porém teme que com o fim destes a elevação dos estoques retorne, já que, por falta de investimentos, a melhora da produtividade continua distante.

O governo, por razões políticas, está esperando o fim das eleições municipais para lançar seu programa de concessões, que daria impulso aos investimentos na infraestrutura, quando se sabe que somente um plano bem mais ambicioso injetaria um pouco de oxigênio à economia.

A única realidade é que as Finanças Públicas estão se deteriorando. A arrecadação fiscal, que subsídios e isenções de efeito duvidoso contribuíram para agravar, está refletindo o baixo nível de atividade. E, com os dispêndios crescendo mais do que as receitas, parece que a meta do superávit primário não poderá ser atingida, o que significa aumento da dívida pública e do seu custo.

As perspectivas para a inflação, que pareciam relativamente boas, mudaram de perfil. A alta de alguns produtos agrícolas no mercado internacional atingiu o Brasil, embora sejamos um dos maiores produtores mundiais de grãos, como soja e milho. Continua existindo a ameaça de uma elevação do preço da gasolina, enquanto o transporte por caminhões já está sofrendo uma elevação com o reajuste do preço do Diesel e dos salários dos caminhoneiros.

A desvalorização do real ante o dólar não surtiu grande efeito sobre as exportações, embora pudesse conter as importações, cujos preços em moeda nacional estão aumentando. As preocupações em torno das contas externas, já com uma redução do resultado da balança comercial, é saber se os investimentos estrangeiros continuarão a cobrir o déficit das transações correntes.

O que mais preocupa nesta fase é a lentidão do governo para tomar as decisões indispensáveis à recuperação da economia.