Título: Médicos liberam Lula para campanha
Autor: Tomazela, José Maria ; Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Nacional, p. A8

Pronto para "fazer o que quiser", ex-presidente encontra Dilma, diz que PT não pode se acuar e já grava na TV para Haddad amanhã

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está autorizado pelos médicos a entrar na campanha eleitoral. Depois do tratamento para combater um câncer na laringe, Lula passou ontem por exames de rotina no Hospital Sírio Libanês, recebeu o aval médico para subir nos palanques e comemorou a nova fase em almoço com a presidente Dilma Rousseff. No cardápio, além do bacalhau, estavam as eleições municipais e o impacto do julgamento do mensalão sobre as campanhas do PT.

"Ele está totalmente liberado para fazer o que quiser", disse o cardiologista Roberto Kalil Filho. "Se quiser fazer campanha, está liberado. Ele pode sair e ir a um palanque. Não há nenhuma recomendação além da prudência."

Informado sobre o bom estado de saúde de Lula, o candidato do PT à Prefeitura, Fernando Haddad, afirmou que planeja um ato, amanhã, ao lado do padrinho político. "Nós aguardávamos ansiosamente por este dia", disse Haddad, na zona leste.

O encontro entre Lula e Dilma ocorreu no escritório da Presidência, em São Paulo, e durou três horas e meia. Na conversa, Lula afirmou que o PT não pode ficar na defensiva por causa do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, segundo apurou o Estado.

Os dois discutiram estratégias para impulsionar as campanhas de Haddad, em São Paulo, e de Patrus Ananias (PT), em Belo Horizonte. Lula gravará amanhã a primeira mensagem de apoio a Haddad, a ser exibida na estreia do horário eleitoral, no dia 21. Ele aposta no início da propaganda política para impulsionar a candidatura do afilhado - no último Ibope/TV Globo/Estado, Haddad obteve 6%.

O comando do PT prevê a participação de Dilma nos programas de TV de Haddad em setembro, quando, acreditam os petistas, ele deve começar a ganhar musculatura. Dilma não quer melindrar agora o PMDB, que lançou o deputado Gabriel Chalita na disputa paulistana.

Ficou acertado que Lula vai se concentrar mais em São Paulo e Dilma, em Belo Horizonte, onde a campanha à reeleição do prefeito Marcio Lacerda (PSB) tem o apoio do senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável adversário da presidente em 2014.

Apesar de liberado pelos médicos, Lula avisou que não vai se exceder nas viagens. De qualquer forma, ele ajudará o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que concorre à reeleição, e os candidatos petistas no Recife, Humberto Costa, e em Fortaleza, Elmano de Freitas - nas duas cidades, o PT rompeu aliança com o PSB. Dilma quer ficar distante dessas capitais, para evitar mal-estar com o aliado.

Celular. Embora não tenha registro na agenda oficial, o encontro reservado entre Dilma e Lula estava marcado desde a semana passada. Na quarta-feira à noite, a presidente telefonou para o antecessor e disse que gostaria de visitá-lo após os exames no Sírio Libanês. "Venha na segunda e depois almoçamos", sugeriu Lula.

Ele estava em São Bernardo do Campo, no trânsito, e a ligação do Palácio do Planalto caiu várias vezes. "Eu estou aqui com o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e ele garantiu que vai resolver esse problema dos celulares", comentou Dilma. No gabinete da presidente, Bernardo abriu um sorriso.

Na tarde de ontem, Dilma e Lula cumpriram o combinado e saborearam o bacalhau encomendado de um tradicional restaurante da Barra Funda.

"O ex-presidente perguntou se podia comer churrasco e dissemos que também está liberado", contou Arthur Katz, outro médico da equipe. A nota do Sírio Libanês atesta, mais uma vez, que não há reflexo do câncer na laringe de Lula.