Título: Premiê foge da Síria e apoia rebeldes; EUA dizem que Assad perdeu controle
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Internacional, p. A10

Erosão. Primeiro-ministro Riad Hijab, chefe do gabinete sírio nomeado há dois meses, viaja para a Jordânia e confirma adesão à revolução contra um "governo terrorista"; ofensiva contra Alepo avança, mas rebeldes revidam e atacam a TV estatal em Damasco

O regime de Bashar Assad sofreu ontem a mais importante baixa em 17 meses de conflito na Síria. O recém nomeado primeiro-ministro Riad Hijab, mais importante personalidade sunita da cúpula do governo, deixou o país em busca de exílio na Jordânia, abandonando o que qualificou de "governo terrorista". Para o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Tommy Vietor, o governo de Assad "perdeu o controle da Síria".

Em visita à África do Sul, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que os dias de Assad "estão contados" e convocou militares e funcionários públicos a seguir o exemplo do premiê.

A saída de Hijab foi divulgada ontem, quase ao mesmo tempo em que um atentado atingia a sede da mais importante TV estatal de Damasco. Ele estava no cargo havia dois meses e foi substituído por Omar Ghalawanji, atual ministro da Administração Regional e vice-premiê.

A ONG oposicionista Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) informou, em Londres, que o primeiro-ministro havia chegado com sua família e assessores a Amã, capital da Jordânia. Mohamed Otri, ex-porta-voz do governo, confirmou sua saída do governo à rede de TV Al-Jazeera.

Ao contrário de outras personalidades políticas e militares que abandonaram Damasco, como o general Manaf Tlass, ex-amigo íntimo de Assad, Hijab aderiu à "revolução". "Eu anuncio hoje que abandono esse regime terrorista e criminoso e me uno às fileiras da revolução pela liberdade e pela dignidade", disse o ex-premiê, em comunicado. "Eu sou um soldado da revolução santa."

Na capital, o regime tentou minimizar a importância do fato. Omrane al-Zohri, ministro da Informação, afirmou que o abandono do posto "não tem nenhuma consequência sobre a política do regime". Também desertaram três oficiais do principal serviço de inteligência do regime, segundo o Exército Sírio Livre (ESL), além de generais que deixaram o país no domingo.

Também o primeiro astronauta sírio, o general Mohamed Ahmad Fares, uma personalidade do país, cruzou a fronteira em direção à Turquia. "Saudamos a defecção de Riad Hijab e todas as outras de responsáveis civis e militares", afirmou Abdel Basset Sayda, presidente do Conselho Nacional Sírio (CNS), órgão que reúne oposicionistas no exílio. "O regime se desagrega. É o início do fim."

Ao desertar, Hijab levou consigo informações preciosas sobre a estratégia de repressão militar dos rebeldes pelo regime. De acordo com o jornal Techrine, pró-Assad, o premiê havia conduzido, no domingo, uma reunião sobre "medidas para reorganizar as regiões purificadas dos grupos terroristas armados".

Ontem, o cerco e os bombardeios aéreos continuaram na cidade de Alepo, centro e econômico do país. Bombardeios ao Palácio de Justiça e aos bairros de Sha"ar, Al-Marjeh, Sakhour e Bab al-Hadid mataram 22 rebeldes. Ao todo, 150 sírios morreram ontem, segundo o OSDH. / COLABOROU GUSTAVO CHACRA

Na Síria, cargo tem pouco peso

O primeiro-ministro sírio é o chefe do Conselho de Ministros e pode assumir as funções presidenciais por até 90 dias. Segundo a Constituição síria, o presidente Bashar Assad é o chefe de Estado, enquanto o premiê é chefe de governo. Na prática, no entanto, a presidência centraliza todas as funções e pode nomear e demitir o premiê a hora que quiser.