Título: Após admissão de fracasso, mercado dá voto de confiança à Petrobrás
Autor: Torres, Sérgio ; Valle, sabrina
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Economia, p. B1

Ações se recuperam depois que Graça Foster explicou os motivos do prejuízo e falou sobre problemas em trabalhos de exploração de 2009 a 2012

As ações da Petrobrás iniciaram o dia de ontem em baixa, sob o impacto da divulgação do prejuízo de R$ 1,346 bilhão no segundo trimestre. Mas os papéis começaram a inverter a tendência ainda pela manhã, depois que a presidente da companhia, Graça Foster, expôs os motivos do prejuízo, em conferências com investidores, analistas e jornalistas. Destacou, inclusive, insucessos de perfurações em trabalhos exploratórios feitos de 2009 a 2012, antes de sua gestão na presidência, iniciada em fevereiro passado.

"Não acredito que fatores que influenciaram o nosso resultado irão acontecer na mesma dimensão que ocorreram neste", disse.

A presidente anunciou que, por causa do prejuízo, resolveu participar do evento, ao lado dos principais diretores.

"Tradicionalmente, o CEO não viria apresentar, mas não poderia deixar de explicar, juntamente com os diretores, o resultado negativo. Acredito na empresa que estou presidindo, temos pessoal qualificado, sabemos operar e estamos investindo bilhões ao longo dos anos em pesquisa e desenvolvimento", afirmou.

A executiva manteve o discurso de que continuará a reivindicar o reajuste do preço dos combustíveis em todos os contatos que mantiver com o governo federal, principal controlador da petroleira. As ações preferenciais (mais negociadas na bolsa) oscilaram entre a cotação mínima de R$ 18,89 e a máxima de R$ 20,23.

Na explanação, Graça falou dos custos representados por trabalhos exploratórios malsucedidos. Com os poços secos, de onde não são extraídos nem petróleo nem gás, a Petrobrás gastou R$ 2,7 bilhões no trimestre. O mercado deu mostras de ter absorvido bem o posicionamento da presidente da Petrobrás. Os papéis da estatal chegaram a atingir a máxima de 1,5%, mas a ação ordinária (ON), com direito a voto, fechou em alta de apenas 0,15%. As preferenciais recuaram 0,10%.

Em todos os pronunciamentos, Graça procurou passar mensagens otimistas em relação ao resto do ano e a 2013, apesar da intensidade do prejuízo, que não era registrado havia 13 anos. Ela afirmou ter "confiança e convicção" de que a Petrobrás atingirá resultados "mais prósperos ao longo dos próximos trimestres e no próximo ano".

Para os analistas Frank McGann e Conrado Vegner do Bank of America (BofA) Merrill Lynch, "os resultados foram fracos, mas, em geral, não tão fracos como pareciam à primeira vista". A afirmação é feita logo após lembrarem a "longa lista de itens" que não devem se repetir nos próximos trimestres.

A corretora Concórdia sustenta que o descasamento entre preços no mercado interno e externo ainda persiste, e com o ritmo de produção menor, frente a uma demanda aquecida, torna difícil para a companhia mitigar todos esses fatores. O analista William Alves, da XP Investimentos, credita o rendimento dos papéis da Petrobrás ontem à explanação de Graça Foster, "reiterando a necessidade de reajustes"./COLABORARAM CLAUDIA VIOLANTE E ANDRÉ MAGNABOSCO