Título: Mercado prevê que Selic chegará a 7,25% ao ano em outubro
Autor: Nacagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Economia, p. B3

Apesar da queda prevista para os juros básicos da economia, pesquisa Focus aposta em alta da inflação

Os cortes de juro devem continuar até outubro. A nova previsão foi feita pelo mercado financeiro e consta de pesquisa divulgada ontem pelo Banco Central. Para os analistas, a Selic cairá mais duas vezes até atingir o mínimo histórico de 7,25% ao ano. A despeito da fraca atividade econômica, preços seguem em trajetória de alta e a expectativa de inflação neste ano atingiu os 5%.

A pesquisa Focus mostra que economistas passaram a trabalhar com o cenário de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve reduzir o juro mais duas vezes: agora em agosto e em outubro. Até a semana passada, prevalecia a expectativa de que o corte deste mês seria o último do ciclo iniciado em agosto do ano passado.

Para o dia 29 deste mês, o mercado aposta em corte de 0,50 ponto, o que levaria a Selic para 7,50% ao ano. Depois, em 10 de outubro, novo movimento, dessa vez menor, de redução de 0,25 ponto. Assim, o juro - atualmente em 8% - cairia para o novo piso de 7,25%.

"A desaceleração da economia sustenta a redução, mas estamos chegando a um ponto em que vai ser preciso esperar para ver a reação da economia e os desdobramentos da crise externa", diz o economista da TOV Corretora, Pedro Paulo Silveira.

Na pesquisa do BC, economistas reduziram mais uma vez a previsão de crescimento da economia brasileira este ano, de 1,90% para 1,85%. O principal problema está no setor industrial, cuja estimativa piorou pela décima semana seguida. Agora, o mercado prevê produção 0,69% menor que no ano passado.

Inflação. Mesmo sem a reação da atividade econômica, cresce a preocupação entre analistas com a inflação. A atenção mora especialmente nos preços de produtos básicos, as commodities, que têm avançado por problemas como a quebra de safra nos Estados Unidos. Na pesquisa divulgada ontem, a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4,98% para 5%.

"Os números já começam a reagir aos aumentos dos grãos, como soja e milho. O problema é que essas culturas têm a capacidade de alastrar o efeito sobre outros preços, como o frango e suínos. Nos Estados Unidos há efeito até sobre o etanol, que é feito do milho", diz o economista da TOV Corretora. No Brasil, o fenômeno determina diretamente a tendência dos preços domésticos, que seguem o mercado internacional.

Mas há outro foco de preocupação. Na sexta-feira, o anúncio do inesperado prejuízo da Petrobrás aumenta a expectativa de reajuste de preços dos combustíveis. "O balanço mostra que o governo não tem espaço para continuar com essa política e vai ter de alterar preços para absorver variações internacionais e a taxa de câmbio mais alta", afirma Silveira.

A depender do movimento da estatal e da reação das tarifas dos transportes urbanos após as eleições municipais, o economista diz que cresce a possibilidade de que o IPCA em 12 meses fique em "um número acima de 5,5% do que abaixo desse patamar".