Título: Poupança teve no mês passado o maior resultado em 17 anos
Autor: Nacagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Economia, p. B3

Pelo quinto mês seguido, depósitos superaram saques; em julho, saldo foi de R$ 8,25 bilhões, 61% mais que em junho

Mesmo com as férias escolares e os incentivos do governo para as compras parceladas, brasileiros preferiram guardar mais dinheiro no mês passado. Dados do Banco Central mostram que os depósitos superaram os saques na poupança em R$ 8,25 bilhões em julho, o maior resultado para o mês da série iniciada em 1995. Em um período de economia fraca e crise mundial, a cautela parece aumentar entre os consumidores.

Julho foi o quinto mês seguido em que as aplicações superaram as retiradas de dinheiro das cadernetas de poupança. Os mais de R$ 8 bilhões em novos depósitos mostram crescimento de 61% na comparação com junho e expansão de 35% ante julho do ano passado. Com isso, brasileiros têm agora R$ 459,44 bilhões nas cadernetas.

Mesmo com a nova regra que diminuiu o rendimento das aplicações, a poupança atrai investidores. O professor de economia e finanças do Ibmec Rio, Gilberto Braga, avalia que a principal explicação para esse desempenho é a continuidade do crescimento - ainda que em ritmo menor - do emprego e da renda. "Mesmo com o juro menor, a mudança de regras foi bem explicada e há tranquilidade entre os poupadores. Não há o temor de calote."

Pela nova regra, a poupança pagará 70% do juro básico, a Selic, sempre que essa referência ficar igual ou abaixo de 8,5% ao ano. A remuneração ainda é acrescida da variação da Taxa Referencial (TR). Hoje, a Selic está em 8,0%.

O professor do Ibmec diz, porém, que outro fator influencia os planos de investir: o noticiário. Em momentos de incerteza e notícias ruins como atualmente, o consumidor tende a ser cauteloso e poupa mais. Por isso, mesmo com as férias e a antecipação do 13.º salário, famílias viajaram menos e foram mais conservadoras nos gastos nas últimas semanas."

Mesmo nos casos em que consumidores saíram às compras, diz o professor, o endividamento parece ser "mais saudável" que o visto em outras épocas. "Muito da demanda via crédito tem sido direcionada para operações mais seguras, como o financiamento de veículos e da casa própria, onde o bem é a garantia do empréstimo. Do ponto de vista financeiro, é melhor que um financiamento de um celular."

Migração. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais mostram, ainda, que pode estar ocorrendo migração de investidores. Em julho, fundos de investimento mais conservadores perderam volumes expressivos de aplicações, valores que poderiam ter ido parcialmente para a poupança. Nos fundos DI, o volume aplicado caiu R$ 3,1 bilhões. Já as carteiras de renda fixa perderam R$ 4,3 bilhões.

A saída de um fundo DI ou de renda fixa pode ser explicada pela taxa de administração cobrada nessas operações e a incidência de Imposto de Renda. Juntos, esses dois fatores reduzem o rendimento. Já a caderneta de poupança não tem taxa de administração e não paga IR, além de ser de fácil operação e entendimento entre os clientes.