Título: Argentina aperta cerco ao mercado de dólares
Autor: Guimarães, Marina
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2012, Economia, p. B9

Agora, turista só poderá comprar moeda usada no país de destino; quem viajar ao Brasil, por exemplo, terá de trocar pesos por reais, sem usar dólar

O governo de Cristina Kirchner reforçou o cerco ao já controlado mercado de câmbio aos turistas que necessitam adquirir divisas para viajar ao exterior.

Medida da Administração Federal de Rendas Públicas (Afip), a Receita Federal local, publicada no Diário Oficial de ontem, determina que o turista só pode comprar moeda usada no país de destino. Para ir ao Brasil, por exemplo, o turista terá de comprar reais, sem possibilidades de adquirir dólares. O mesmo ocorrerá com as viagens aos demais países vizinhos e suas respectivas moedas.

O sistema da Afip permitia comprar uma média de US$ 100 diários no mercado oficial, por 4,605 pesos por unidade (ao câmbio de ontem), para a viagem comprovada por meio da passagem aérea, até 45 dias antes do embarque. Agora, a norma determina que, embora a operação tenha de ser feita com antecipação, o dinheiro só será entregue 48 horas antes da viagem. A medida também determina que os pacotes turísticos informados pelo passageiro devam ser confirmados pelas empresas de transporte ou agências de viagens. As resoluções entrarão em vigor a partir do dia 13.

Atualmente, os turistas são os únicos com possibilidades de operar legalmente no mercado de câmbio argentino. As demais compras e vendas de divisas estão proibidas. Mesmo com as restrições, nem todas as solicitações dos viajantes serão aprovadas. A Afip se reserva o direito de rejeitar pedidos, conforme o montante solicitado ou "informações incompatíveis" entre as declarações e documentos apresentados. Neste caso, quem precisa de divisas, acaba recorrendo ao mercado paralelo, cuja cotação hoje se encontra em 6,20 pesos por unidade.

Desde o dia 31 de outubro, quando Cristina Kirchner iniciou uma série de medidas de controle do câmbio, o blue, como é chamado o mercado paralelo na Argentina, já operou um volume considerável de US$ 5 bilhões, conforme estimativas conservadoras dos operadores. O blue passou a movimentar uma média diária de US$ 25 milhões, segundo o chefe da mesa de câmbio de um banco portenho.

Porém, o banco central do país afirma que o volume é menor, só US$ 10 milhões. "É uma cifra marginal de apenas 3,0% do mercado e não tem o menor peso na soma final", disse uma fonte do BC à Agência Estado.

Os controles oficiais não mudaram a cultura geral do argentino de comprar dólares para guardar, apenas fechou as portas para o varejista acostumado a operar volumes irrisórios.