Título: Puxada por alimentos, prévia indica alta da inflação em julho
Autor: Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/07/2012, Economia, p. B3

índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 foi de 0,33% no mês, mas não alterou previsões para o ano

A prévia da inflação oficial acelerou a alta em julho, puxada por aumentos nos preços dos ali­mentos e salários de emprega­dos domésticos. A alta foi de 0,33% no índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) deste mês, acima das expectativas do mercado. Em junho, a taxa tinha ficado mais comportada (0,18%), informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado féz analistas revi­sarem suas expectativas para o I IPCA fechado do mês, mas não chegou a alterar as previsões pa­ra a inflação oficial no ano. "É muito cedo para qualquer tipo de pânico. O mercado vinha errando para cima as previsões de inflação. Não é por causa desse número que deve haver preocupação"; avaliou o economista Francisco Pessoa, da LGA Consultores Associados.

A previsão da consultoria é de que o IPCA encerre 2012 em tor­no de 4,8%. Entre as surpresas na prévia de julho estão as que­das menores nos preços dos au­tomóveis novos (2,47%) e usa­dos (2,45%) e os aumentos maio­res nos artigos de vestuário (0,39%).

Na avaliação do economista Luiz Roberto Cunha, decano da PUC-Rio, apesar do salto na pré­via da inflação no mês, ainda não há motivo para alarde. "O núme­ro trouxe uma surpresa em dois ou três itens. Alimentação vai su­bir um pouco mais, mas a alta foi pontual, não foi disseminada."

As maiores contribuições para o IPCA-15 de julho foram do au­mento de salários de emprega­dos domésticos (1,37%) e dos ali­mentos (0,88%). Só o tomate su­biu 29,30% no mês. Entretanto, economistas ainda não veem mo­tivo para que o Comitê de Políti­ca Monetária do Banco Central interrompa o ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic.

"A política monetária não de­ve mudar o seu curso de corte na taxa básica de juros", avaliou o economista-chefe da Gradual In­vestimentos, André Guilherme Pereira Perfeito.

O economista da Gradual pre­vê mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual na Selic este ano, pa­ra 7% ao ano. "Tem de cortar mais (os juros), ainda mais num mundo que parece dar sinais de mais uma rodada de afrouxamen­to monetário. O Brasil não pode ficar para trás", disse Perfeito.

O que pode ter reflexo na infla­ção ao consumidor no segundo semestre é o choque de oferta da soja, milho e trigo no mercado externo, decorrente de proble­mas climáticos nos Estados Uni­dos. O impacto que já vem sendo absorvido na inflação no ataca­do reflete-se no índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), me­dido pela Fundação Getúlio Var­gas, e afeta os preços reajustados pelo indicador, como o aluguel. Outro meio de contaminação se­ria via aumento nos preços das carnes, principalmente de porco e de frango, por causa do encare- cimento na alimentação dos ani­mais, lembrou Pessoa.

Se por um lado há pressão das commodities, o economista da LCA prevê alívio das hortaliças, que vêm pressionando a inflação ao consumidor também por cau­sa do clima na lavoura. Pessoa estima que o IPCA cheio de julho fique em 0,42%. Para 2013, prevê a inflação entre 5,4% e 5,5%.