Título: Bastos se destaca e é cortejado em sessão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2012, Nacional, p. A4

Ao pedir desmembramento do processo, ex-ministro de Lula atrasa cronograma

Autor intelectual da tese de que o mensalão foi apenas uma operação de caixa dois eleitoral – e não compra de apoio político – e artífice da tentativa de desmembrar o processo de mensalão que retardaria o julgamento, o advogado Marcio Thomaz Bastos foi a estrela na inauguração do julgamento do caso ontem. Exibiu carisma, foi reverenciado pelos ministros da Corte e idolatrado pelos colegas defensores. Perdeu a primeira batalha – a questão de ordem pela separação dos autos do mensalão.Mas acirrou os ânimose criou cizânia entre o relator e o revisor do caso. Thomaz Bastos não deve recuar em sua estratégia na defesa do executivo José Roberto Salgado,do Banco Rural–denunciado como integrante do núcleo financeiro do esquema, a Salgado são atribuídos os delitos de formação de quadrilha, lavagemde dinheiro e gestão fraudulenta. “O desmembramento (do processo do mensalão) eu acho que devia ter sido feito,mas a discussão de hoje foi muito frutífera e acredito que tenha provocado uma reflexão criativa, vai ter reflexos nas futuras decisões da Corte”, ponderou o advogado.

Natural.A passos lentos, mas seguro em seus 77 anos, a beca de sempre pendurada no braço direito, o ex-ministro da Justiça do governo Lula deixou o plenario do Supremo às 18 horas,quando o presidente da Corte abriu intervalo de meia hora. Marcado de perto pelos jornalistas, cortejado pelos bacharéis, deu a volta no edifício e caminhou até o Anexo I. “Aqui tem uma lanchonete, preciso comer um sanduíche. Até logo.” A meta era alcançar a prescrição com o pedido de desmem-bramento dos autos?, lhe foi perguntado.“Não,nem um pouco. O que eu disse na sustentação é verdade, se manda isso para um juiz (de primeiro grau) é capaz de ele julgar mais depressa do que uma Corte.” Relata que levou ao STF cópias do memorial – peça final – com as ponderações acerca do Pacto de San José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, que garante ao acusado duplo grau de jurisdição. “Foi no fim do ano passado, entreguei para alguns pessoalmente. Senti alguma receptividade. Eu acho que tenho razão nesse caso.”

A quais ministros entregou? “Entreguei para alguns, para a Rosa (Weber), o ministro Marco Aurélio, (Luiz) Fux.” Decepcionado com o resultado? “Não, eu tinha poucas esperanças. Mas achei que devia colocar (a questão de ordem) porque é um tema importante para a Corte, não é? Ela é a guardiã da Constituição.” Com habilidade, não alimentou o entrevero entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. “É natural.” Evitou polêmica sobre o impedimento do ministro Dias Toffoli. “Ele votou (a questão de ordem), ninguém arguiu (suspeição). Não vejo mais condições para que se levante a suspeição. Ele (Toffoli) já tinha votado antes questões de ordem.Acho que acabamos com essa demanda.” Bom que Toffoli prossiga? “Não sei, vamos ver com o voto dele”, respondeu, com um largo sorriso./ COLABOROU EDUARDO BRESCIANI