Título: Infraero executa só 18% do orçamento
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2012, Economia, p. B4

A menos de dois anos da Copa do Mundo de 2014, ritmo de obras de expansão dos aeroportos está lento e preocupa especialistas

Apesar de todos os esforços feitos pelo governo federal para destravar os investimentos aeroportuários, a Infraero, empresa pública que administra a maior parte dos terminais do País, encerrou o primeiro semestre de 2012 com apenas 18,7% do orçamento de R$ 1,8 bilhão previsto para infraestrutura no ano concluídos. O ritmo de execução do orçamento da estatal vem em trajetória semelhante ao do mesmo período de 2011 e preocupa especialistas do setor.

A menos de dois anos para a Copa do Mundo de 2014, em alguns projetos de ampliação ou adequação em cidades-sede, os porcentuais são ainda mais baixos. No caso do Galeão, no Rio, um dos mais movimentados do País, apenas 9,7% do investimento de R$ 200 milhões previsto foi executado. Em Confins, na Grande Belo Horizonte, foi de 10,5%, e em Porto Alegre, de 15,2%.

"Esse ritmo não é suficiente para adequar a infraestrutura aeroportuária do País. As coisas precisavam estar mais aceleradas (...) O Brasil ainda não encontrou uma forma de tocar seus projetos de forma acelerada e, no caso dos aeroportos, isso é muito visível", avalia o professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Paulo Resende, especialista em infraestrutura e logística.

A Infraero diz que o andamento dos investimentos está de acordo com o esperado e que, normalmente, a maior parte dos desembolsos acaba ficando para o segundo semestre. Resende, porém, alerta para um complicador este ano. Para ele, a movimentação política no País deve dificultar a aceleração das obras.

Problemas de gestão na estatal são apontados por especialistas como o principal obstáculo à execução eficiente dos investimentos. De acordo com cálculos do coordenador de Infraestrutura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Campos Neto, a Infraero executou 51,2% do orçamento no ano passado. Ele afirma que, na média de 2003 a 2011, não chegou a 40%. A estatal, porém, diz que no ano passado executou 75,6%.

"A Infraero historicamente tem problemas de gestão. É preciso ter uma administração mais eficiente." O pesquisador acrescenta que a morosidade dos processos de licenciamento ambiental e ações judiciais envolvendo desapropriação são fatores que também atrapalham a realização de investimentos, ao lado da burocracia do setor público.

Desde que assumiu a Presidência no ano passado, a presidente Dilma Rousseff definiu o setor aeroportuário como uma de suas prioridades, ante a lentidão dos projetos de infraestrutura. Uma das primeiras medidas foi retirar a Infraero da alçada do Ministério da Defesa e levá-la para uma secretaria criada por ela e subordinada à Presidência.

A Infraero informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a execução do orçamento obedece às etapas de realização das obras. No caso do Galeão, a empresa diz que terminou no primeiro semestre obras já pagas no ano passado e no segundo começará obras no terminal 1. Segundo a estatal, no Recife a infraestrutura já está dimensionada para atender à demanda da Copa e a intervenção prevista para 2012 ainda não teve a ordem de serviço assinada. Já em Fortaleza e Salvador, as obras estariam em fase inicial. Com relação ao Santos Dumont, no Rio, a Infraero diz que a obra está parada por determinação do TCU.