Título: Negócios são legais, diz ex de Cachoeira
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2012, Nacional, p. A9

Andréa Aprígio leu um depoimento à CPI defendendo seu patrimônio de R$ 16,4 milhões

Suspeita de ser “laranja” do ex-marido Carlos Augusto Ramos, Andréa Aprígio afirmou ontem à CPI do Cachoeira que os seus negócios – uma fundação, uma construtora e o laboratório farmacêutico Vitapan – são lícitos, fruto da partilha de bens durante a separação do contraventor. Munida de um habeas corpus, Andréa fez um discurso de defesa de cerca de dez minutos, chegando a chorar quando falou dos filhos. E se negou a responder às perguntas dos deputados e senadores. “O silêncio dela pode ter sido uma forma de assentir”, afirmou o relator da CPI,deputado Odair Cunha (PT-MG). Ele disse que Andréa saiu ontem da comissão como investigada. “Esperáva-mos que a testemunha pudesse colaborar, mas, por orientação da defesa, ela preferiu silenciar. Fizemos, então,um interrogatório negativo”,argumentou o presidente da comissão,senador Vital do Rêgo (PMDB-PB),ao explicar que o silêncio de Andréa complicou sua situação quando ela recusou-se, por exemplo, a responder às perguntas sobre sua evolução patrimonial.

Uma das questões que ficaram sem resposta foi o empréstimo no valor de R$ 1,9 milhão feito a ela por Cachoeira, em 2010. “Com certeza eu deveria estar precisando naquele momento”, disse Andréa, para em seguida evocar o direito de ficar calada. Ela também manteve o silêncio quando foi perguntada sobre contas bancárias no exterior e sobre o cartão de crédito que mantém em conjunto com Cachoeira. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a CPI possui extrato com movimentação bancária,entre novembro de 1997 e julho de 2006, de conta em nome de Andréa e Cachoeira,na Flórida(EUA).Essa conta, em 2006, tinha US$ 271.700. Ao ler seu depoimento, Andréa defendeu a legalidade do patrimônio registrado em seu nome. “Vocês acreditam sinceramente que alguém deixaria algum bem em nome de uma ex-esposa, de um ex-marido?”, indagou. Relatórios da Polícia Federal apontam que seus bens somam R$ 16,4 milhões, entre eles, um avião apreendido na Operação Monte Carlo.O patrimônio de Cachoeira é bem inferior: apenas R$ 1,5 milhão. A ex-mulher de Cachoeira refutou ainda que o laboratório Vitapan tivesse usufruído de algum benefício da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Em nenhum momento foi solicitado privilégio para nossos processos”, afirmou Andréa, repetindo estar “desconfortável” com a exposição de sua família.

Choro.Loira, com um vestido preto colado ao corpo, Andréa tentou convencer os parlamentares a dispensá-la do depoimento depois de sua fala inicial. Chegou até a chorar. “Se soubesse que teria de me submeter a questionamentos não teria falado nada no início”,disse. Conseguiu cativar apenas o deputado Carlos Sampaio(PSDB-SP),que defendeu a sua liberação para evitar constrangimentos a depoente.O tucano foi, no entanto, voto vencido. Anteontem, Andressa Mendonça,atual mulher de Cachoeira ficou calada durante toda a sua passagem pela CPI. A CPI também ouviu ontem o depoimento de Rubmaier Ferreira de Carvalho, que aparece como contador em várias empresas consideradas fantasmas no esquema do grupo de Cachoeira. Ele negou conhecer o contraventor e pessoas de seu grupo,mas reconheceu ter criado as empresas Brava Construções e Veloso e Conceição. De posse de um habeas corpus, o contador se recusou a responder sobre a empresa Qualix. Segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ele teria recebido R$ 2,3milhões da empresa entre julho e agosto de 2005. “Não quero falar sobre isso. Vou usar o direito constitucional de ficar calado.”