Título: Quiseram desestabilizar o denunciante
Autor: Recondo, Felipe ; Brito, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2012, Nacional, p. A6

Mariângela Gallucci, Eduardo Bresciani, Brasília

O ex-secretário do PTB Emerson Palmieri foi denunciado por envolvimento no mensalão numa tentativa de desestabilizar o delator do esquema, o ex-deputado Roberto Jefferson. A tese foi defendida ontem no plenário do Supremo Tribunal Federal pelo defensor de Palmieri, Itapuã Prestes de Messias. "Era preciso desmoralizar Palmieri, cortando assim as pernas de sustentação de Roberto Jefferson", afirmou o advogado de defesa. O Ministério Público Federal acusa Palmieri de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele é frequentemente descrito como uma espécie de tesoureiro informal do PTB. No entanto, o advogado Messias contesta essa qualificação. "Emerson Palmieri não é e nunca foi tesoureiro do PTB", afirmou. "Não tem nenhum deputado do PTB que tenha recebido dinheiro das mãos de Emerson Palmieri", disse.

Jô Soares Assim como a defesa de Roberto Jefferson, o advogado de Palmieri sustentou que seu cliente deveria ter sido testemunha, e não réu, no processo. "Vossa Excelência calou o denunciante", disse, dirigindo-se ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem chamou de uma pessoa "agradável" e "parecida com o apresentador Jô Soares".

O defensor Messias confirmou que R$ 4 milhões foram repassados ao PTB. Segundo ele, o repasse decorreu de um acordo envolvendo a eleição municipal de 2004. O advogado observou que o próprio Roberto Jefferson confirmou o recebimento deste valor.

Base de apoio. O MPF sustenta que Roberto Jefferson e Emerson Palmieri receberam do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza em abril e maio de 2004 R$ 4 milhões. "O acordo fechado à época por Roberto Jefferson com José Dirceu impunha o pagamento do valor de R$ 20 milhões para que o PTB aderisse à base de apoio do governo", acusa o MPF.

De acordo com o Ministério Público, os pagamentos foram feitos em dinheiro na sede do PTB em Brasília. "A entrega dos valores em espécie teve por objetivo ocultar a origem, a natureza e o real destinatário dos valores pagos como vantagem indevida."

O MPF também destacou uma viagem a Portugal feita por Palmieri, Marcos Valério e o advogado Rogério Tolentino para uma reunião com o presidente da Portugal Telecom. O objetivo do encontro seria negociar uma doação milionária.

Messias elogiou o ministro do STF José Antonio Dias Toffoli, que participa do julgamento apesar de no passado ter advogado para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também para petistas. Toffoli também namora a advogada Roberta Rangel, que já defendeu outro réu do processo, o ex-deputado Professor Luizinho.

Sem descrição O advogado de Palmieri também criticou a denúncia do mensalão. Segundo o defensor, a acusação deveria ter sido concisa, precisa e clara quanto ao envolvimento de cada um dos réus. No entanto, ele disse que isso não ocorreu. "Não tem nenhuma descrição na denúncia do que ele fez", afirmou.

Messias disse que Palmieri e Roberto Jefferson colaboraram com as investigações. "Não se descobriu mais ninguém. Só aquelas pessoas denunciadas por Roberto Jefferson e sustentadas por Emerson Palmieri", disse. Segundo o advogado, não era possível exigir que depois de denunciado seu cliente continuasse a falar. "A partir daí tudo o que dissesse seria e é utilizado contra ele."

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