Título: Futuro do Cruzeiro do Sul depende de acordo com credor
Autor: Friedlander, David ; Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/08/2012, Economia, p. B5

Após 70 dias de trabalho, auditoria conclui que rombo total ficará ao redor de R$ 3 bi; plano de salvamento será anunciado amanhã

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) apresenta amanhã os números finais do rombo no Cruzeiro do Sul após a intervenção do Banco Central (BC). Depois de 70 dias de trabalho, apurou-se que o buraco total ficará ao redor de R$ 3 bilhões - portanto, mais que o dobro do cálculo inicial do BC, de R$ 1,25 bilhão. Junto com o balanço, será apresentado um plano para tentar salvar o Cruzeiro do Sul da liquidação.

Para evitar a liquidação e tentar arrumar um comprador para o banco, nos últimos dias, a direção do FGC discutiu várias alternativas com o Banco Central, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, pois o banco tem ações negociadas em bolsa) e com representantes das instituições financeiras que compõem o Conselho do FGC.

Os detalhes do plano só serão conhecidos amanhã à noite, mas a solução passará necessariamente por um acordo com os credores. Será proposto a eles um desconto nas dívidas que têm a receber do banco.

A avaliação é de que, apesar dos problemas, o Cruzeiro do Sul tem atrativos - entre eles, uma carteira de crédito consignado de R$ 8 bilhões, uma das maiores entre os bancos de porte médio.

A saída para o banco não é fácil. Em primeiro lugar, porque o buraco nas contas da instituição supera o valor que o FGC teria de colocar em caso de liquidação - R$ 2,2 bilhões. Esse é o montante que o FGC seria obrigado a desembolsar para cobrir perdas dos clientes do Cruzeiro do Sul.

Em segundo lugar, porque o rombo supera o valor de mercado estimado para a instituição. Além disso, calcula-se que um novo dono teria de injetar ao menos R$ 800 milhões para manter o Cruzeiro do Sul funcionando.

O buraco é resultado de fraudes contábeis, provisões abaixo das regras do BC e créditos falsos, entre outros problemas. O banco tinha na carteira, por exemplo, 301 mil empréstimos consignados fictícios.

Fundos de participação. Além de tudo isso, há dúvidas sobre dois fundos de investimento em participação (FIP) administrados pela Verax, a gestora de recursos que tinha como sócios os ex-controladores do Cruzeiro do Sul, Luís Octavio e Luís Felippe Índio da Costa.

Juntos, o BCSul Verax 5 Platinum e o BCSul Verax Equity têm R$ 450 milhões. O FGC avalia que os fundos não são de responsabilidade do banco, uma vez que têm até CNPJs independentes.

Mas advogados de clientes acreditam que a instituição financeira pode ser obrigada a ressarcir os investidores. Seria uma obrigação a mais.