Título: Intervenção militar ajudaria em futuro conflito contra o Irã
Autor: Internacional
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2012, Internacional, p. A12

O conflito na Síria é apenas um front na competição entre o Irã e os aliados sunitas dos EUA no Golfo Pérsico. Essa competição ocorreu no passado na guerra indireta no Líbano e no Iêmen. E o Iraque pode se tornar o próximo campo de batalha.

Se o Irã tornar-se um Estado com armas nucleares, a competição quase certamente se intensificará. Seja qual for o desfecho na Síria, os aliados americanos no Golfo Pérsico precisam se preparar para um aprofundamento da competição por novas defesas com o Irã.

Os países do Conselho de Cooperação do Golfo, sunitas, estão aumentando suas forças militares convencionais, em particular as defesas coordenadas de mísseis, para fazer frente à ameaça de mísseis balísticos iranianos. Entretanto, os combates reais dos últimos anos foram realizados por milícias insurgentes que, em geral, foram armadas e treinadas pelo Irã e por alguns países sunitas. Por exemplo, o Catar, cujas forças especiais tiveram um grande papel na derrubada do regime de Muamar Kadafi na Líbia, é um grande patrocinador, com a Arábia Saudita, dos rebeldes sírios. A captura de consultores da Guarda Revolucionária iraniana por rebeldes sírios, na semana passada, ilustra o papel do Irã no conflito.

Esse tipo de guerra irregular, muito provavelmente, continuará a ser a manifestação mais comum da competição por segurança entre Irã e países sunitas. O Hezbollah, no Líbano, várias milícias xiitas no Iraque e o atual treinamento e suporte que o Irã fornece a milícias pró-Assad na Síria demonstram a experiência de Teerã nesse tipo de guerra.

Os países sunitas têm um forte interesse em aumentar sua capacidade de guerra irregular se não quiserem ficar atrás. Para os EUA, apoiar os rebeldes da Síria constituiria uma campanha de guerra não convencional, uma missão básica de Forças Especiais.

Tais missões são tipicamente sigilosas e, geralmente, realizadas em cooperação com aliados regionais. Por isso, agentes de inteligência e forças especiais dos EUA e do Conselho do Golfo poderiam usar uma campanha de guerra não convencional na Síria como uma oportunidade de trocar competências e treinamento, compartilhar recursos, melhorar a confiança e estabelecer procedimentos operacionais combinados. Ela também tranquilizaria países sunitas, dando sinais de que os EUA serão um aliado confiável contra o Irã.

Normalmente, os objetivos de uma campanha de guerra não convencional na Síria seriam derrubar o regime Assad e estabelecer um governo favorável aos interesses americanos e sunitas.

As autoridades devem reconhecer que as campanhas de guerra não convencional são projetos frágeis, sem nenhuma garantia de sucesso. Elas podem demorar anos com muitas possibilidades de embaraços ao longo do caminho. A guerra síria está se mostrando tão suja quanto qualquer outra guerra indireta moderna, com ambos os lados aparentemente culpados de crimes de guerra.

Consultores e instrutores de forças especiais americanas deveriam poder visitar acampamentos de refugiados rebeldes na Turquia e na Síria. Por último, as autoridades americanas deveriam analisar o uso limitado do poder aéreo - por exemplo, aviões não tripulados (drones) para coletar informações e dar apoio aéreo direto. Essa abordagem poderia construir a capacidade geral de operações especiais da aliança, limitando a exposição e o risco dos EUA.

Alguns certamente criticarão essa abordagem como uma exploração do desastre na Síria para permitir que os EUA e seus aliados refinem algumas técnicas desagradáveis. Uma analogia histórica seria a Guerra Civil Espanhola, no fim dos anos 30, outra guerra civil muito suja que as grandes potências da Europa usaram para refinar suas doutrinas militares antes da 2.ª Guerra. Desse ponto de vista, a intervenção não só aceleraria o sofrimento da Síria como tornaria os EUA um elemento acessório de uma guerra suja.

Entretanto, à medida que uma intervenção americana em apoio a seus aliados sunitas encurta a guerra e apressa o fim do regime de Assad, ela salva vidas e reduz o sofrimento da Síria. Como se viu nos Bálcãs, no início dos anos 90, ficar de lado enquanto grassa uma guerra civil traz problemas morais. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK