Título: Balanço mostra rombo de R$ 3,1 bi no Cruzeiro do Sul
Autor: Modé, Leandro ; Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2012, Economia, p. B8

Plano para salvar o banco inclui desconto médio de 49% em dívida e venda para outra instituição financeira até o dia 10 de setembro

O balanço auditado do Cruzeiro do Sul após a intervenção decretada pelo Banco Central (BC) mostra que o rombo total da instituição chega a R$ 3,1 bilhões. Para tentar evitar a liquidação do banco, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) apresentou ontem à noite um plano com dois pontos principais: uma oferta de compra de dívidas do Cruzeiro do Sul com deságio médio de 49% e a venda do banco para outra instituição financeira.

Depois de 70 dias de trabalho, os auditores contratados pelo FGC concluíram que a deficiência patrimonial alcança R$ 2,236 bilhões - R$ 3,1 bilhões descontados do patrimônio líquido do banco, de R$ 874 milhões. Esse é o valor para o qual o FGC busca uma solução.

A partir de hoje, o Fundo vai oferecer aos investidores a proposta de compra de dívida. Serão incluídos no processo investidores externos, que detêm 58,1% do total (R$ 3,3 bilhões), e locais, que possuem 7,5% (R$ 430 milhões). O restante (34,4% ou R$ 1,95 bilhão) é constituído por obrigações do próprio FGC. Nessa última conta, estão incluídos o chamado Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE) e os CDBs até o limite de R$ 70 mil por CPF. As obrigações do FGC serão cumpridas integralmente, sem deságio.

"Se os credores não aderirem e quiserem pagar para ver, o banco poderá ser liquidado", disse o presidente do Cruzeiro do Sul nomeado após a intervenção, Celso Antunes.

O FGC explicou que a liquidação só será evitada se duas condições forem atendidas: no mínimo 90% de adesão ao plano de desconto de dívida e uma proposta firme para a compra do Cruzeiro do Sul.

Duas instituições financeiras foram contratadas para a renegociação das dívidas externas: HSBC e Bank of America Merrill Lynch. Para a dívida local, ainda não foi definido um banco.

Em relação à tentativa de venda, ontem mesmo o FGC disparou e-mails para 20 instituições financeiras que têm perfil considerado adequado para realizar a eventual compra.

Segundo o presidente do FGC, Antônio Carlos Bueno, são bancos como Itaú, Bradesco, Santander, HSBC, BTG Pactual, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, entre outros.

A oferta de renegociação de dívida ficará aberta até 12 de setembro. Em relação à venda do banco, as propostas serão aceitas até 10 de setembro.

Inicialmente, o BC calculou o rombo em R$ 1,3 bilhão. A conta cresceu em razão de vários problemas. Entre eles, provisões adicionais de R$ 542 milhões para operações de crédito consignado e empréstimos para empresas de pequeno e médio portes; e R$ 612 milhões de provisões adicionais para proteção contra processos judiciais nas áreas cível, trabalhista e tributária).

Além disso, o banco Prosper, comprado pelo Cruzeiro do Sul no fim de 2011, tinha cerca de R$ 100 milhões de operações sem perspectiva de recebimento. Também foi realizado um encontro de contas no fundo de investimento Tâmisa, que tinha ações superfaturadas em aproximadamente R$ 125 milhões.

O FGC foi indicado pelo Banco Central para administrar o Cruzeiro do Sul desde a intervenção, decretada no início de junho. Mantido pelos bancos brasileiros, o FGC tem como objetivo proteger depósitos de clientes. Nos últimos anos, assumiu também um papel relevante em operações de resgate de instituições em dificuldades, como Panamericano e Schahin.