Título: Depois de Mantega, BC questiona bancos
Autor: Leolpoldo, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2012, Economia, p. B3

Em solenidade de posse na Anbima, Aldo Mendes mandou recados ao sistema financeiro e insistiu no discurso de expansão do crédito

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, mandou recados às instituições financeiras, na solenidade de posse da nova diretoria da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em São Paulo.

Ele disse que, num contexto de redução da taxa básica de juros e do spread - a diferença entre a taxa de juros que os bancos pagam para captar dinheiro e a taxa que eles cobram nos empréstimos -, as instituições financeiras terão de se adequar à nova realidade, com maior oferta de produtos, competição mais acirrada e redução da dependência de bancos e fundos investimento a aplicações em títulos públicos, o que vai requerer maior apetite por papéis privados.

Mendes destacou que o mercado financeiro tem todas as condições de empenhar mais capitais para a realização de investimentos no País, sobretudo em infraestrutura. O mais sintomático foi uma mensagem velada aos participantes do setor.

"Precisamos também eliminar resquícios de práticas de um passado de elevada instabilidade macroeconômica, que ainda existem no nosso sistema financeiro", disse sem entrar em detalhes, talvez para não trazer constrangimentos numa cerimônia festiva, na qual estavam presentes cerca de 300 altos executivos de bancos, corretoras e fundos.

"Algumas práticas já não fazem mais sentido num país que domou as altas taxas de inflação do passado. O Brasil tornou-se previsível no longo prazo e vem apresentando taxas de juros estruturalmente mais baixas", disse o diretor do BC.

Mantega. Os comentários de Mendes foram feitos um dia depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter chamado os dirigentes dos principais bancos a Brasília, para encontro que contou com a participação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

O grau de sintonia de Mantega com Tombini é muito grande. No evento, Mantega teria pedido aos banqueiros que sejam mais ativos na concessão de crédito para consumidores e empresários e que a timidez dessas instituições não corresponde a um ambiente nacional marcado por queda da inadimplência, baixa inflação, solidez e previsibilidade da economia nacional.

Aldo Mendes, afirmou que a ampliação dos investimentos nos próximos anos é um dos desafios da economia do Brasil. "O mercado financeiro é um grande parceiro, capaz de alocar os recursos necessários para a realização desses investimentos com maturidade adequadas", ressaltou. "Por isso, o governo tem todo o interesse de incentivar a participação do mercado financeiro nesse processo."

"Com redução de juros e de spreads vão se ampliar os horizontes do mercado bancário e aprofundamento do mercado de capitais", disse Mendes. "Com isso, algumas linhas de crédito deverão crescer, principalmente aquelas que requerem prazos mais longos", disse, ao destacar entre elas o crédito corporativo e investimentos em infraestrutura. "Mas, para que esse crescimento seja sustentável, será necessário também uma integração mais intensa entre mercado bancário e mercado de capitais, em bases sólidas, transparentes e seguras", destacou.

FMI. Mendes destacou ainda dois estudos divulgados recentemente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial que, segundo ele, ratificam as boas condições econômicas e financeiras do País. "O relatório do FMI mostrou que o Brasil está muito bem preparado para adversidades", comentou, referindo-se à resiliência da economia em meio à grave crise internacional. "Condições econômicas são favoráveis para convergência da inflação à meta."