Título: Bancos preveem oferta restritiva de crédito
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2012, Economia, p. B4

Diante de uma economia estagnada e de sinais de moderação no mercado de trabalho, grandes bancos estão pessimistas. Mesmo com as várias medidas adotadas pelo governo e o juro no menor patamar histórico, banqueiros preveem que a oferta e a aprovação de novos financiamentos para o consumidor deverão ser "restritivas" no trimestre. A avaliação incomoda o governo e a equipe econômica já ameaçou que, se precisar, vai agir.

Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou nove dos maiores banqueiros do Brasil para tentar mudar a posição do grupo - especialmente dos privados - que argumenta que o crédito não deslanchará tão rápido como espera o governo. Nos bancos, o argumento passa pelo emprego mais fraco, desaceleração da renda e, especialmente, falta de confiança na economia.

O pessimismo ficou explícito um mês antes do encontro com Mantega. No fim de junho, 17 instituições financeiras - entre bancos e financeiras - foram sondadas pelo Banco Central sobre as perspectivas do mercado de crédito. O grupo responde por 85% do total de empréstimos ao consumo, segmento considerado chave para manter a economia aquecida.

As respostas não foram animadoras. O grupo disse que a oferta de novos empréstimos deve ter "moderada contração" no terceiro trimestre. A pesquisa qualitativa recebe respostas em uma escala entre +1 (o melhor cenário possível) e -1 (o pior cenário possível).

Sobre a oferta de crédito ao consumo, o estudo mostra uma nota -0,31 no período entre julho e setembro. Ou seja, uma tendência à redução da disponibilidade de empréstimos. Além disso, os bancos também preveem que a situação econômica dos clientes não estará boa o suficiente e, por isso, a aprovação de novos financiamentos deve ter "ligeira contração". Neste caso, a resposta dos bancos foi -0,19.

A menor oferta e a queda na aprovação de novos financiamentos acontecem a despeito da vontade dos consumidores. Ao serem questionados sobre como deve evoluir a procura por crédito nas agências, banqueiros disseram que preveem 0,12 ponto. Ou seja, "ligeiro aumento" na demanda por empréstimos entre as pessoas físicas.

Os números até mostram que o pessimismo diminuiu ligeiramente em relação às estimativas feitas três meses antes, mas ainda não há otimismo. O resultado reforça, ainda, a análise de parte dos economistas - chancelada recentemente pelo BC - de que a economia brasileira não se recupera totalmente em 2012.

Evolução. Indicadores de crédito mostram algum avanço ao longo dos últimos meses. O juro caiu e o volume de financiamentos se recupera marginalmente após o forte tombo do ano passado.

Um exemplo está no endividamento total das famílias, que correspondia a 40,8% da renda anual há um ano. Em maio, o último dado disponível, o indicador já havia avançado para 43,2% da renda, novo recorde. Na média, isso significa dizer que cada brasileiro tomou R$ 242,73 em novos empréstimos nos últimos cinco meses. É como se cada pessoa aumentasse a dívida em quase R$ 1,60 por dia nesse período.

Em maio, na média, cada um dos 192 milhões de habitantes devia R$ 4.242,19 a bancos e financeiras. Em janeiro, a dívida por brasileiro estava em R$ 3.999,46. Apesar desse crescimento, a economia não reage ou avança muito aquém do esperado pela equipe econômica. Por isso, tanta preocupação no governo.