Título: Novo presidente inicia dolorosa reestruturação
Autor: Smoltczyk, Alexander
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/08/2012, Economia, p. B14/15

Fabrizio Viola vai cortar 630 milhões com plano de reduzir agências e empregos do banco MPS

É "um momento difícil, mas vai passar", diz Franco Ceccuzzi, que recentemente se demitiu do cargo de prefeito de Siena depois que uma parte de sua coalizão de centro-esquerda se recusou a aprovar seu orçamento. Por enquanto, a altiva Siena está sendo governada por um comissário de Roma.

"Foi uma traição por parte de pessoas que não gostaram do rumo que escolhi na minha gestão", diz Ceccuzzi, de 45 anos. Ele é filho da "Toscana Vermelha", originário de uma família de camponeses comunistas.

"A prefeitura querer controlar a maioria das ações foi um erro", admite Ceccuzzi. "Isso exigiu um esforço financeiro excessivo da Fundação del Monte dei Paschi com a chegada da crise."

Um retrato do líder revolucionário francês Robespierre está pendurado na parede atrás dele. Faz parte do logotipo da agência encarregada de fazer relações públicas para Ceccuzzi. "Uma administração pública mal consegue administrar a si mesma", afirma. "Como pode controlar uma coisa tão complicada como um banco?"

Em maio, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota do venerando Monte dei Paschi di Siena (MPS) mais uma vez, com perspectiva negativa.

No fim de junho, o novo diretor executivo do banco, Fabrizio Viola, obteve mais um empréstimo do governo de cerca de 2 bilhões. O MPS foi o primeiro banco italiano a solicitar a ajuda do Estado.

Viola é um banqueiro de Milão, gordinho, careca. Certamente, não é um homem para "talk shows" e, por isso mesmo, foi nomeado para o cargo de diretor executivo. Um detalhe importante é que Viola não é de Siena. Ao contrário, ele é o salvador do banco vindo de fora, uma espécie de comissário - um Mario Monti do Monte.

"Continuamos um banco que concede empréstimos da maneira tradicional, um banco que tem raízes em toda a Itália", diz Viola. Ele insiste também que é preciso distinguir claramente entre o banco, a fundação e a prefeitura.

Cenas apocalípticas. O afresco da parede atrás dele mostra uma cena apocalíptica repleta de figuras seminuas, contorcidas que estendem os braços para o alto em desespero. "Não quer dizer nada", explica Viola, quando perguntamos o significado do quadro. "Também não quero comentar as decisões estratégicas tomadas por meus predecessores. Prefiro olhar para o futuro. Na época, havia provavelmente um desejo específico de expandir um banco como o MPS, para que pudesse permanecer competitivo no plano nacional."

Viola afirma que ele e a prefeitura concordaram com um plano de reestruturação. "Será doloroso para algumas pessoas, mas certamente não só para os seneses."

O plano prevê o fechamento de 400 agências até 2015, ou uma em cada sete, a eliminação de bonificações e o corte de 4.400 empregos. Viola pretende, com isso, economizar 630 milhões.

Siena não corre o risco de se tornar a Nápoles da Toscana. As multidões de turistas continuarão vindo, enquanto a cidade tiver sua catedral, a Torre Del Mangia estender sua sombra sobre o Campo e a corrida do Palio se realizar duas vezes ao ano.

Mas sem o banco, sem o paizinho sempre pronto a pôr a mão no bolso, acabou a confiança de que tudo se resolverá da melhor maneira possível.

Ceccuzzi tira uma foto na rua, com o pano de fundo das paredes de tijolos em "cotto di Siena" no sol da tarde.

Valentina Lorenzini treinadora, massagista e organizadora do clube Siena Calcio Femminile perdeu o prazo para inscrever o time na Série A por falta de dinheiro. Enquanto isso, no bairro da Onda, já foram postas as mesas para o próximo banquete coletivo. A vida continua. Ceccuzzi diz que voltará a se candidatar, e que tem o apoio do seu partido.

"Venha para o próximo Palio", ele convida. E, quase automaticamente, acrescenta: "Será um convidado do banco".