Título: Debate assustou petistas do governo, mas foi superado
Autor: Domingos, João ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2012, Economia, p. B5

Foi por determinação da presidente Dilma Rousseff e com base na constatação de que a alternativa de estimular o consumo interno para promover o crescimento estava esgotada que o governo abriu a discussão sobre o pacote de concessões no setor de infraestrutura. Os investimentos são o ponto de partida e o objetivo final do programa nacional de integração logística que teve sua primeira etapa anunciada ontem.

O debate político em torno das privatizações satanizadas pelo PT na gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso assustou petistas do governo e do Congresso, mas foi superado. Avaliou-se que o risco de o plano ser mal compreendido era pequeno pelo simples fato de que não haverá venda de patrimônio público para pagar a dívida, como se fez no passado.

A análise predominante é de que o cenário atual é bem diferente do da privatização tucana. Naquela época, diz um ministro, o brasileiro não viu "a cor" do dinheiro da venda da Vale, apontada então como uma espécie de joia da coroa, porque a dívida "comeu tudo, com os juros lá em cima".

Agora, prossegue ele, o dinheiro não vai entrar na ciranda financeira e o resultado das concessões será visível.

A tese é de que as concessões do PT terão efeito visual concreto - em portos, rodovias e ferrovias, o que vai repercutir na vida do cidadão e, na etapa final, no bolso do povo e do empresariado, com a redução nas tarifas de energia. E, entregando a infraestrutura à iniciativa privada, o governo poderá reservar o Orçamento para investir em outros setores, como os programas de habitação e saneamento.

Não por acaso, o governo decidiu divulgar em etapas seu plano. A decisão foi estratégica, para potencializar a iniciativa na opinião pública, até porque as etapas envolvem cifras muito expressivas, a começar dos R$ 133 bilhões para rodovias e ferrovias.

A avaliação interna foi de que o anúncio em capítulos seria positivo para se contrapor a novelas como a do mensalão, sempre negativas para o governo.