Título: Presidente do PSDB cumprimenta Dilma por aderir às privatizações
Autor: Domingos, João ; Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2012, Economia, p. B5

Enquanto o PT elogia o pacote por "não vender o patrimônio", o PSDB diz que o governo perdeu dez anos na solução dos problemas

O pacote de concessões de rodovias e ferrovias lançado ontem pela presidente Dilma Rousseff teve apoio tanto dos partidos do governo quanto da oposição. A diferença é que o PT considerou a decisão inovadora, por não "vender o patrimônio", enquanto o PSDB afirmou que o governo perdeu dez anos na resolução dos problemas de infraestrutura antes de retomar, agora, o projeto de privatizações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), chegou a cumprimentar a presidente Dilma por ter "aderido ao programa de privatizações, há anos desenvolvido pelo partido". Pelo microblog Twitter, ele defendeu a iniciativa como um dos caminhos para acelerar os investimentos em infraestrutura. Só lamentou a demora. "Lamentamos o atraso dessas iniciativas que, a curto prazo, não poderão atenuar o decepcionante crescimento do PIB brasileiro."

Guerra chegou a manifestar o temor de que o PT venha a fazer cobranças à presidente por ter adotado o regime de concessões para rodovias e ferrovias. Ainda pelo Twitter, disse esperar que "o improviso e a falta de convicção, por parte do governo e de seu partido, não impeçam a implantação dessas decisões".

Para a advogada e ex-diretora do BNDES, Elena Landau, que conduziu o programa de privatização do governo FHC, o pacote de concessões é o reconhecimento de que fórmulas antigas, como a redução de IPI para alguns setores, não funcionam mais para conduzir a economia.

Ela evitou entrar na discussão sobre a diferença entre privatização e concessão, mas não concordou com a declaração da presidente de que o governo está consertando erros do passado. "O governo FHC acabou em 2002. Eles demoraram dez anos para consertar o que estava errado? Durante esse tempo, rodovias, ferrovias, energia elétrica e telecomunicação estiveram sob o comando desse governo e de suas agências enfraquecidas."

Modernização. O PT manifestou total apoio a Dilma. "Foi uma das mais importantes decisões do governo para que o País seja modernizado. As medidas anunciadas são ousadas e contundentes e mostram que o Brasil tem planejamento", disse o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (PT-SP).

O presidente nacional do partido, Rui Falcão, seguiu a linha de Dilma ao afirmar que o pacote corrige erros das privatizações de FHC. "Não haverá pedágios escandalosos e extorsivos."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também defendeu a estratégia de sua sucessora. "Na medida em que você tem dificuldade orçamentária em fazer obras com dinheiro da União, se você puder fazer concessão para que os empresários possam durante um tempo administrar aquilo e depois devolver ao Estado, você tem de fazer."

Para o líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), a demora do governo fez o País perder uma década em infraestrutura. "O Brasil estaria em outro patamar se o PT, por convicção meramente ideológica e eleitoreira, não tivesse interrompido os programas e reformas então em curso", disse Araújo.

O líder tucano afirmou ainda que as licitações até agora podem ser usadas como exemplos negativos, pela demora na execução. Segundo ele, o último grande pacote de privatizações de rodovias foi licitado em 2007, mas as obras não estarão concluídas no prazo previsto. "Infelizmente, nada garante que o programa que está sendo anunciado não vá ficar também no papel."

Para o líder da minoria na Câmara, Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), o pacote foi ousado. Ele disse que a concessão de 7,5 mil quilômetros de rodovias e 10 mil km de ferrovias, de uma vez, é algo inédito para a América do Sul e até mesmo para os Estados Unidos. "A concessão anunciada agora significa três idas e voltas de Brasília a São Paulo."

Mendes Thame, no entanto, acha que o projeto só dará certo se o governo fiscalizar efetivamente a atuação das empresas. "Os vencedores das últimas concessões investiram apenas 10% de tudo o que haviam prometido. E não foram punidas por isso porque o governo é falho."

O líder do PSD na Câmara, deputado Guilherme Campos (SP), disse que o programa é um passo para destravar a economia. "Além disso, estamos desmistificando a questão de que as concessões são coisas do demônio."