Título: Tempo é desafio a plano para Cruzeiro do Sul
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2012, Negócios, p. B17

Investidores reagiram com desconfiança ao plano do FGC de "socializar" as perdas do banco

Os bancos contratados pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para negociar com credores internacionais a compra de bônus emitidos pelo Cruzeiro do Sul correm contra o tempo. A operação é considerada complexa, porque tem de ser fechada até o dia 12 de setembro e envolve milhares de investidores em diferentes lugares do mundo. Ontem, o mercado reagiu com ceticismo à proposta do FGC.

Na noite de terça-feira, o Fundo apresentou seu plano para tentar evitar a liquidação do Cruzeiro do Sul, que está sob intervenção do Banco Central (BC) desde 4 de junho. Na ocasião, a autoridade monetária definiu o FGC como administrador enquanto durar o Regime de Administração Especial Temporária (Raet).

O plano é composto por dois pontos principais: compra de papéis do Cruzeiro do Sul com deságio em relação ao valor de face e venda da instituição caso surja alguma proposta firme. As duas condições têm de ocorrer simultaneamente, levando em conta ainda que no mínimo 90% dos investidores devem aprovar as condições oferecidas para a venda dos títulos.

A maior parte desses credores - 58% - está no exterior. Outros 7,5% são investidores nacionais, que serão contatados pelo próprio FGC. O restante é de obrigações do próprio Fundo.

Os investidores internacionais detêm US$ 1,575 bilhão em bônus emitidos pelo Cruzeiro do Sul. A oferta do FGC prevê um deságio médio de 49%.

Quanto mais próximo o vencimento do papel, menor o deságio oferecido. No total, são seis títulos. O primeiro, que vence no próximo dia 17 de setembro, tem um desconto proposto de 39%. No mais longo, que vence em 2020, a oferta prevê deságio de 69%. Além desses, há papéis com vencimento em 2013, 2014, 2015 e 2016.

Os bancos responsáveis pela operação - HSBC e Merrill Lynch - vão levantar com bolsas ao redor do mundo as listas dos detentores dos papéis. Essas bolsas são os agentes que fazem a custódia dos títulos.

Após o levantamento dos dados, será enviada aos investidores uma carta explicando as condições e avisando sobre uma assembleia que será realizada no dia 7 de setembro em Nova York. Procurados, os bancos informaram que não podem fazer comentários porque são os coordenadores da operação.

Reação. Ontem, os bônus com vencimento mais curto se desvalorizaram, enquanto os mais longos subiram. Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações preferenciais (PN) do Cruzeiro do Sul perderam 3,91%, e fecharam contadas a R$ 1,72.

Alguns investidores externos ficaram incomodados com o plano. O argumento é o de que eles pagarão a maior parte da conta pelos problemas do banco.

Uma fonte disse que o FGC foi conservador ao estimar as perdas previstas pela instituição sobre o montante de títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos que estão no ativo do banco.

Segundo a fonte, o cálculo aumentou a necessidade de deságio do passivo para zerar o rombo no patrimônio. À agência Bloomberg, investidores internacionais se dividiram: alguns elogiaram e outros criticaram o plano. / COLABOROU CYNTHIA DECLOEDT