Título: Voto descasado é alvo de estudo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2012, Nacional, p. A6

Quando foi eleito prefeito de São Paulo, em 2004, José Serra rompeu a tradição de que, na cidade, o PSDB tem bom desempenho nas disputas presidenciais e maus resultados nas eleições municipais. O descompasso, porém, se repetiu no período seguinte: Geraldo Alckmin teve 56% dos votos paulistanos quando concorreu à Presidência em 2006, e caiu para 22,5% na disputa pela Prefeitura, em 2008. Depois de chegar a 40% dos votos da capital na eleição presidencial de 2010, Serra tenta mais uma vez quebrar o histórico municipal desfavorável aos PSDB.

O mesmo desequilíbrio que o PSDB enfrenta na cidade de São Paulo se repete com o PT no Rio de Janeiro. Os candidatos à prefeitura não acompanham as altas votações de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff entre os cariocas. Nas duas últimas disputas para prefeito, o PT teve 6% e 5% dos votos. Este ano, o partido sequer entrou na disputa. Indicou o candidato a vice na chapa do prefeito Eduardo Paes (PMDB), candidato à reeleição.

O descompasso entre eleições presidenciais e municipais nos dois maiores colégios eleitorais do País é objeto do estudo que será lançado em e-book, nesta quarta-feira, pelo professor da PUC-Rio, Cesar Romero Jacob, e sua equipe. A publicação A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo estará disponível na página da Editora PUC-Rio (http://www.editora.vrc.puc-rio.br/).

Segundo Romero, votações tão discrepantes para presidente e prefeito são em parte explicadas pela força local de líderes de outros partidos que tentaram sem sucesso ganhar projeção nacional, como Paulo Maluf (PP) em São Paulo e Leonel Brizola (fundador do PDT, morto em 2004), no Rio. Ao mesmo tempo, políticos de expressão nacional, como Fernando Henrique e Lula, não atraíram para seus aliados o eleitorado que conquistaram.

"A série histórica ajuda a pensar o presente. Há uma ideia de que o presidente da República é sempre um bom cabo eleitoral, mas em alguns casos ocorre o oposto. O Fernando Henrique em São Paulo e o Lula no Rio foram anticabos eleitorais, apesar das votações expressivas que tiveram. Quando estavam no poder, seus candidatos a prefeito tiveram votações muito baixas", diz Romero. Nessas duas capitais, destaca o professor, também foram raros os casos em que os governadores elegeram os prefeitos. "Em 2004, verificou-se um bom desempenho do candidato a prefeito pelo PSDB, José Serra, o que se constituiu num fato novo. Esta mudança deve-se ao enfraquecimento do malufismo", diz o estudo.

"Na capital paulista, enquanto nas disputas municipais a competição se deu, na maioria das vezes, entre o PT e o malufismo, nas disputas presidenciais o embate ocorreu entre o PT e o PSDB, o que corrobora a existência de um desequilíbrio entre o desempenho dos candidatos tucanos a prefeito e a presidente nesta cidade."

Contraponto. Para o senador tucano Aloysio Nunes, em São Paulo não se pode falar em retomada do descompasso entre votos para presidente e prefeito em 2008, já que o vitorioso foi um aliado do PSDB, Gilberto Kassab (PSD). "O PSDB foi se consolidando aos poucos, inclusive conquistando áreas do Maluf e do PT", diz o senador.

No Rio, a força política do ex-governador Leonel Brizola e de ex-brizolistas foi a barreira para o crescimento do PT. "O eleitorado do Rio vota no PT para presidente, mas aqui tem uma figura chamada Leonel Brizola. Sofremos essa "concorrência", mesmo depois que o espólio de Brizola se dividiu entre Cesar Maia, Marcello Alencar, Anthony Garotinho", diz o deputado federal e fundador do PT Jorge Bittar, Secretário Municipal de Habitação.