Título: O Banco Rural crê num julgamento apartado da política
Autor: Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2012, Nacional, p. A8

Presidente da instituição, Lima diz que confia que os ministros do Supremo farão uma análise técnica, "com base nas provas"

O banco tem uma relação de estrita obediência a todas as normas do poder público, em especial às provenientes da autoridade supervisora. O Rural é um banco de crédito há 48 anos. Atua financiando a produção em um mercado essencialmente privado. É um banco de grande expertise no seu segmento e que sabe procurar o seu lugar diante da concorrência. O crédito para empresas está em franca expansão e daí há boas perspectivas.

Quando o senhor assumiu a presidência houve mudanças na condução da instituição? Nova política interna? Houve algum tipo de lista de relações a serem evitadas? Alguma medida para proteger o banco de polêmicas? Condutas para tentar poupar a instituição de exposição desnecessária tentando antever problemas em potencial?

Há um constante aperfeiçoamento da instituição, em todos os sentidos. Todos os procedimentos operacionais são permanentemente melhorados.

O que é mais difícil para uma instituição financeira, que vive da credibilidade, resistir: a uma crise política, como esta na qual foi envolvida, ou à recessão mundial?

Ambas são desafiadoras. E o banco tem resiliência, por seu vínculo com o middle market e pela contribuição socioeconômica por investir no crescimento de novas empresas.

A sociedade tende a adotar leituras maniqueístas dos fatos. Um banco, símbolo de poder financeiro com relações políticas, pode ser alvo de um "preconceito", um prejulgamento?

É sempre difícil conseguir fazer uma discussão sobre procedimentos bancários quando estão no centro da polêmica questões sobre práticas políticas, em relação às quais nenhum dos executivos do banco à época está sendo acusado. Ainda assim, o banco acredita num julgamento técnico, com base nas provas, apartado de decisões de natureza política.

Qual é o sentimento da família Rabello, fundadora do banco, em relação a essa fase que a instituição vem enfrentando?

É de profunda preocupação, por ver o nome da instituição e de pessoas inocentes envolvidas.

Como está a saúde do banco hoje? Quais são os projetos para os próximos anos? Quais são as expectativas da direção do banco para o mercado?

O banco está sólido; para os próximos anos, projeta crescimento, em consonância com a expansão da economia brasileira.

Qual será a posição do banco caso algum dos quatro acusados seja condenado?

Se tudo sair conforme o previsto no julgamento do mensalão, esta semana os ministros do Supremo Tribunal Federal começarão a decidir o futuro dos quatro réus do núcleo financeiro, todos ex-altos executivos do Banco Rural, incluindo a então presidente da instituição Kátia Rabello, acusada de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas.

Foi na atmosfera de expectativa que o atual presidente do Rural, João Heraldo Lima, falou ao Estado, por e-mail. "O banco acredita num julgamento técnico, com base nas provas, apartado de decisões de natureza política", disse Lima. Segundo ele, os impactos do escândalo na saúde do banco, em cifras, lhe custou quase metade da carteira de crédito - caiu de R$ 4,5 bilhões para R$ 2,5 bilhões.

Em 48 anos de existência, o Rural já passou por crise política anterior, ao ser acusado de movimentações ilegais no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Lima diz que nenhuma irregularidade foi provada, mas admite que as operações passaram por "aperfeiçoamentos".

O economista e ex-secretário da Fazenda de Minas no governo de Eduardo Azeredo (PSDB) diz que o banco só não quebrou por causa da clientela, formada de pequenas e médias empresas.

Como as acusações de envolvimento com o escândalo do mensalão contra executivos do banco Rural afetaram a imagem da instituição?

O Banco Rural sempre contou com um patrimônio valioso, a sua relação com as pequenas e médias empresas, o "middle market", relação fundamental para superar o impacto inicial do mensalão, que veio a se somar à crise dos bancos médios, com a intervenção do Banco Santos. O Rural chegou a reduzir a carteira de crédito à época de R$ 4,5 bilhões para R$ 500 milhões e o número de funcionários, de 2.300 para aproximadamente 560. Hoje temos 575 funcionários e uma carteira de crédito de R$ 2,5 bilhões.

No site do banco Rural há um link que leva direto para notícias do julgamento do mensalão. É um meio de contar uma outra versão dos fatos?

O banco confia na correção dos procedimentos adotados; não há nenhuma acusação de atos de corrupção ou desvio de recursos, o cerne do caso mensalão. Os questionamentos dizem respeito a procedimentos bancários em relação aos quais há um conjunto probatório favorável à absolvição de seus executivos à época. Um banco tem funcionamento complexo, é muito regulado e os procedimentos são de elevada tecnicidade. Por isso, precisamos de um espaço para mostrar as explicações necessárias.

O Rural também foi ligado a denúncias ligadas ao governo do ex-presidente Fernando Collor. Que experiência ficou daquela época? E qual fica da atual?

É difícil comentar em detalhes, porque não estava no banco. De qualquer forma, apesar de não ter havido nenhuma irregularidade comprovada no caso mencionado, os mecanismos de controle foram aperfeiçoados e, anos depois, a própria identificação das pessoas que retiravam os recursos das agências SMPB e DNA, no caso do mensalão, sem que as normas assim exigissem, é uma indicação nesse sentido.

O Rural sobreviveria hoje alheio a relações com instâncias do governo brasileiro?

O banco não discutirá decisão final da Justiça. Em relação às acusações, elas pesam sobre pessoas físicas e não sobre a pessoa jurídica do banco. Independentemente do resultado do julgamento, o banco prosseguirá as atividades, focadas no middle market.