Título: João Paulo Cunha renuncia a candidatura após condenação por lavagem de dinheiro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2012, Nacional, p. A4

O deputado João Paulo Cunha (PT-SP) foi condenado ontem pelo crime de lavagem de di­nheiro no Supremo Tribunal Federal e decidiu comunicar a direção de seu partido que es­tá fora da disputa pela prefei­tura de Osasco, na Grande São Paulo. No dia anterior, a maio­ria dos ministros da Corte já havia condenado o petista por corrupção passiva e peculato.

Além de desistir da candidatu­ra, o ex-presidente da Câmara dos Deputados teve de aceitar ainda a indicação do candidato a vice em sua chapa, Jorge Lapas, como o seu substituto na dispu­ta. Apesar de ser petista, Lapas não é do mesmo grupo político de João Paulo dentro do PT.

A "sentença política" foi dada a João Paulo ao longo do dia, em reuniões com a participação do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, aliado de Lapas. Abatido e emocionado, o deputado disse a correligionários que fora injus­tiçado pelo STF, vítima do que o PT chama de "farsa" do mensalão, e admitiu não ter condições de levar adiante a candidatura.

Mesmo assim, ele pretendia es­colher outro nome para substituí- lo. Avaliava que o também petis­ta Jorge Lapas, ex-secretário de Obras e de Governo de Emídio, não era conhecido do eleitorado nem tinha densidade política.

Na prática, a resistência de João Paulo a ceder a vaga para Lapas refletia uma queda de braço com Emídio. Uma briga entre "criador" e "criatura". Emídio assumiu a Prefeitura de Osasco em 2005 - indicado por João Paulo, então presidente da Câmara - e está no segundo mandato.

No ano passado, o prefeito dis­se até ao ex-presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva que o candidato à sua sucessão deveria ser Jorge La­pas. Alegou que João Paulo era réu no processo do mensalão e que, se condenado pelo Supremo, o PT poderia perder a Prefeitura.

O deputado, porém, não acredi­tava que o mensalão fosse julga­da neste ano. Além disso, tinha convicção de que seria absolvido.

Até mesmo o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos foi consultado sobre quais deve­riam ser os próximos passos de João Paulo. "Ele tem que renun­ciar o mais rápido possível", disse Thomaz Bastos ao telefone.

Na noite de ontem, aliados do deputado afirmavam que quanto mais ele demorasse para anun­ciar publicamente a desistência do páreo, mais seria responsabili­zado pelos prejuízos à campa­nha petista em Osasco. Até a conclusão desta edição, o anúncio da desistência havia sido feito só internamente no partido.

Na Justiça. João Paulo foi con­denado por lavagem de dinheiro ontem por seis votos a quatro por ter mandato a mulher sacar os R$ 50 mil na agência do Banco Rural, dinheiro que, segundo os ministros, foi pago como propina pelo empresário Marcos Valé­rio. Os ministros entenderam que ele tentou esconder a origem dos recursos. Por 9 votos a 2, o tribunal já havia condenado o petista por peculato e corrupção passiva. A soma das penas dos três crimes chega a sete anos, se calculada pelo mínimo.

No entanto, o ministro Cezar Peluso, que antecipou seu voto quando às penas, mostrou que o STF deve aumentar esse prazo. A pena que será imposta a João Paulo será calculada apenas ao final do julgamento. Se fosse estabelecida a pena mínima, os crimes de peculato e corrupção passiva poderiam estar prescritos. Como a pena mínima pelo crime de lavagem é mais al­ta - três anos - o crime não esta­ria prescrito, mesmo se fosse im­posta a pena mais baixa. O petis­ta pode ser condenado, inclusi­ve, a prisão em regime fechado.

Há possibilidade de o deputa­do recorrer no próprio Supremo.