Título: O Copom se transformou em instrumento do governo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2012, Economia, p. B2

As decisões do Comitê de Política Monetária (Co­pom) não se vincu­lam mais ao seu ob­jetivo natural, mas à política econômi­ca ou, mais exata­mente, anticíclica, em estreita colaboração com o gover­no. Não é mais a tendência da infla­ção que as dita, mas a necessidade de cumprir uma meta de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Assim, é inútil procurar adivinhar se o Copom acha que haverá um au­mento dos preços. A decisão de on­tem, nessa perspectiva, era esperada e foi sem surpresa que o mercado re­cebeu a notícia da fixação da Selic em 7,5%. A novidade foi o comunicado da reunião dizer que, "considerando os efeitos cumulativos e defasados das ações da política implementada até o momento, que em parte se refle­tem na recuperação em curso da ativi­dade econômica, o Copom entende que, se o cenário prospectivo vier a comportar um ajuste adicional nas condições monetárias, esse movi­mento deverá ser conduzido com má­xima parcimônia".

Dado o resultado restrito dessa no­va política econômica, interpretou- se que o Copom encerrará o ciclo de redução da Selic com mais uma que­da de 0,25 ponto de porcentagem ape­nas. O Copom parece estar consciente de que foi além do razoável, no pa­pel de aprendiz de feiticeiro.

Apesar de falar da "recuperação em curso", parece que o Copom não obteve resultados à altura dos meios utilizados, embora empregando arti­lharia pesada. Em todos os tipos de crédito tivemos, em sete meses, um crescimento de 7,8% - e o crédito direcionado, controlado pelo gover­no, cresceu 8,8%. O crédito para as pessoas físicas acusou, no período, aumento de 18,7%, ante 16,7% para as pessoas jurídicas. O estoque de crédito está em 23% do PIB, nas insti­tuições públicas, e em apenas 19,1%, nas instituições privadas nacionais. As concessões acumuladas do crédi­to livre, em sete meses, diminuíram de 7,2% no caso das empresas e au­mentaram 3,1% para as famílias, en­quanto as taxas de juros apresenta­ram queda de 7,8% para empresas e 9,5% para famílias.

Realmente, a atuação do Banco Central favoreceu essencialmente as pessoas físicas, e não tanto as empre­sas. Até agora é difícil falar, como faz o Banco Central, em recuperação eco­nômica, mas no máximo de uma polí­tica que visou a amortecer os efeitos de uma crise mundial. Foi um perío­do em que a taxa Selic estava alta de­mais e qualquer elevação dela seria excessiva. Hoje, a manipulação da ta­xa básica de juros é mais fácil, porém deveria continuar sendo instrumen­to de contenção da inflação