Título: Margarina, cereal e temperos entram em programa de redução de sódio
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/08/2012, Vida, p. A18
Compromisso para reduzir o sal nas formulações desses alimentos entra em vigor em 2013 e a previsão é que, até 2020, 8,8 mil toneladas de sódio deixem de ser consumidas no País; ingestão da substância em excesso está relacionada a doenças cardíacas e renais
O Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) anunciaram ontem a terceira etapa do programa para redução de sódio em produtos processados no País. O compromisso prevê a diminuição do uso de sal nas formulações de caldos, temperos, margarina e cereais matinais. As modificações começam a ser colocadas em prática para esse grupo a partir de 2013 e a expectativa é de que, até 2020, pelo menos mil toneladas de sódio deixem de ser consumidas.
A medida é considerada como essencial para prevenir doenças cardíacas e renais no País, problemas que estão diretamente associados ao consumo excessivo do sal. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o consumo máximo não ultrapasse 5 gramas diárias - uma colher de chá. A dieta do brasileiro, no entanto, tem mais que o dobro do recomendado: são 12 gramas de sal diariamente.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, diz que a medida vai ajudar a tornar mais saudável a comida ingerida por pessoas que trabalham. Temperos prontos e caldos são usados com frequência em restaurantes em geral, incluindo os existentes nas empresas.
Com o novo anúncio, sobem para 13 as classes de alimentos cujos índices de sal deverão ser reduzidos nos próximos anos. O acordo geral foi firmado entre Ministério da Saúde e Abia em abril do ano passado e prevê a redução de até 20 mil toneladas de sódio até 2020. O convênio, no entanto, está com sua implantação atrasada.
Pelo cronograma inicial, em dezembro de 2011, o ministério e associação já deveriam ter fixado os limites de redução dos 16 tipos de alimentos considerados prioritários. Quatro foram anunciados ontem. Para os três produtos restantes da lista - laticínios, embutidos e alimentos prontos- não há nem mesmo data para a definição dos novos valores de redução. O Ministério da Saúde afirma que o atraso é provocado por problemas encontrados pela indústria para implantação de novas tecnologias.
Embora bem-vindas, as metas são consideradas tímidas. "Ciaro que, com o acordo, os teores de sal vão se reduzir. Mesmo assim, eles ainda estão bem acima do que seria considerado ideal", afirma a professora de nutrição
da Universidade Federal de São Paulo, Anita Sachs. Ela cita como exemplo os cereais matinais. A meta fixada para 2015 é de 418 miligramas de sódio a cada 100 gramas do produto. "O ideal seria que fossem 150 gramas para a mesma quantidade", diz Anita. O mesmo ocorre com os valores da margarina. O acordo prevê que, até 2015, cada 100 gramas do produto contenham no máximo 750 miligramas de sódio. Para Anita, o ideal seriam 150 gramas. "Não deve ser fácil fazer as adaptações para o produto manter as características - principalmente o sabor", pondera. "Mas, se o processo vai ser feito, o ideal seria que ele já alcançasse níveis mais baixos de sal."
Os produtos industrializados brasileiros, quando comparados com os de outros países, apresentam teores de sal bem mais elevados. Valores divulgados no ano passado mostravam que cada 100 gramas de macarrão apresentavam entre 2 mil e 4 mil miligramas de sódio. No Canadá, a média era de 926 miligramas.