Título: França e Itália apoiam escudo antispread do BCE
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2012, Economia, p. B8

Às vésperas da reunião da autoridade monetária, Hollande e Monti defendem intervenção do banco no mercado de dívidas para "reduzir especulação"

Setores do governo da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ainda resistem, mas ontem o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, recebeu um suporte de peso em favor da intervenção da autoridade monetária no mercado de dívidas soberanas na Europa. Reunidos em Roma, o presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, anunciaram seu apoio formal ao que chamaram de "escudo antispread", o programa de compra de dívidas que deve ser lançado amanhã, em Frankfurt.

O encontro entre Hollande e Monti, o terceiro desde maio, quando o francês tomou posse, selou o acordo entre os dois países em favor da adoção de medidas heterodoxas para enfrentar a crise da zona do euro. A dois dias da reunião do comitê de política monetária do BCE, os dois líderes políticos tornaram público o apoio à iniciativa pregada por Mario Draghi. "Há taxas de juros elevadas demais na Europa, em um momento em que os planos de redução da dívida foram implantados em certos países", afirmou Hollande. "Baixar os juros é o papel de todos os que têm vocação a intervir na zona euro, e em especial do BCE." Para Hollande, a diferença de taxas de juros - os spreads - entre países da União Europeia "são graves entraves sem nenhum fundamento", argumentou.

Nos últimos 12 meses, o spread entre juros cobrados por títulos da dívida da Alemanha e da França chegam a ser negativos, enquanto os governos da Espanha e da Itália enfrentam taxas de refinanciamento cada vez maiores.

Enquanto a Alemanha refinancia seus títulos com validade de 10 anos a taxas de 1,3%, a França paga 2,2% de juros. Já a Itália vem arcando com 6,5%, enquanto os yields (retornos) cobrados da Espanha já superam os 7% - um nível considerado insustentável por multiplicar a dívida.

Condições. O princípio do "escudo antispread" foi aprovado pelos chefes de Estado e de governo da União Europeia na reunião de cúpula de 28 e 29 de junho. Pela decisão, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) foi autorizado a adquirir títulos de dívidas soberanas de países em dificuldade. As condições dessa intervenção, entretanto, ainda não foram definidas. Com a provável decisão do BCE de quinta-feira, a autoridade monetária da zona do euro também passará a intervir.

Segundo Mario Monti, a Itália não necessariamente usará o "escudo" para reduzir a pressão sobre sua dívida, mas a opção precisa estar disponível. "É preciso que vários países façam pouco a pouco progressos de política econômica", disse o premiê, ponderando: "Mas também é preciso que a União Europeia reconheça o esforço, para que os spreads que não têm nenhuma relação com a saúde econômica parem de aumentar".

Usando uma expressão muito empregada por Merkel, Monti afirmou que os países da zona do euro devem "fazer o dever de casa". "Mas isso não é suficiente", ressaltou.

Além de apoiar a eventual decisão do BCE de intervir, França e Itália já começaram a pressão política para que a próxima cúpula da União Europeia, em 18 e 19 de outubro, resulte em novas medidas para aumentar a união bancária e a integração de políticas econômicas e monetárias.

Na cúpula anterior, realizada em junho, Merkel foi considerada a grande derrotada do encontro, quando Hollande, Monti e o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, isolaram a chanceler alemã e impuseram as condições para o acordo multilateral.