Título: Candidato do PRB 'surfa' na rejeição a Serra e a petistas
Autor: Gallo, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2012, Nacional, p. A10

"Estado" visita redutos tradicionais de partidos e ouve os motivos do eleitor para apostar suas fichas em Celso Russomanno

Ana Valéria tem 51 anos, mora em Pirituba, zona norte, e é diretora de escola. Diz-se eleitora do PSDB. Afirma ter ajudado a eleger José Serra prefeito em 2004. Também conta ter apoiado o tucano quando ele deixou o cargo para concorrer ao governo do Estado dois anos depois. "Agora chega! Para mim, ele acabou!", sentencia. "No PT não voto! Nessa eleição, vou votar no Russomanno!"

Valéria traduz o que apontam as pesquisas de intenção de voto: a queda continuada de José Serra (PSDB) enquanto Celso Russomanno (PRB) mantém a liderança calçado na onda de rejeição ao tucano aliada ao antipetismo entre conservadores - segundo o Ibope, Serra tem rejeição de 34%. "Russomanno é menos uma opção de voto e mais a falta de opção", avalia o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP. Amuado com Serra e avesso ao PT, esse eleitorado aponta para o candidato do PRB como alternativa a Fernando Haddad, que também cresceu nas pesquisas, mas majoritariamente entre eleitores petistas que passaram a conhecê-lo com o horário de TV.

O tucano ainda assegura o eleitorado nos redutos antipetistas. Mas mesmo ali, segundo a pesquisa Ibope de sexta-feira, teve queda enquanto Russomanno cresceu, um sinal de que pode ter havido transferência de votos entre os candidatos. Russomanno lidera na cidade com 31%. Serra tem 20% e Haddad, 16%.

O técnico em eletrônica Anderson Moretto, de 27 anos, conta que a condição financeira do pai, comerciante, "melhorou muito" após o Plano Real e, desde então, a família vota no PSDB. Não este ano. "Fosse outro candidato, ok, mas o Serra... Aí eu prefiro votar no Russomanno. A gente conhece ele da TV, fazia programa de consumidor, não é? Mas meu voto é falta de opção mesmo."

Nos bolsões conservadores, Serra tem pelo menos 29% de rejeição e 12% entre os simpatizantes do próprio PSDB. Antipetista convicto, seu Léo, como prefere ser chamado, é engenheiro aposentado, vive em Indianópolis, bairro da zona sul onde os candidatos tucanos tiveram maioria absoluta dos votos em todas as eleições da última década e meia, segundo dados obtidos do estudo "A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo: 1996-2010", da PUC do Rio.

Após sofrer o último assalto - uma vez invadiram seu apartamento e apontaram uma arma para o neto, de 1 ano; outras três vezes o alvo do cano de ferro frio era sua própria cabeça -, seu Léo diz que não quer saber mais do partido. No PT seu Léo não votaria nem que aquela bala, nunca disparada, tivesse atingido seu cérebro. "Nem morto! Nem em nenhum partido da base governista!", diz, categórico. Nessa eleição, vai anular o voto. Se cumprir sua promessa, será a primeira vez que seu Léo não votará no partido desde que a democracia se restabeleceu no País, em 1985.

Para a biomédica Camila Peixoto, de 35 anos, também será a primeira eleição em que não votará no PSDB, assim como o marido, o administrador de empresa Daniel Carvalho, de 33 anos, da terceira geração de tucanos. "Já excluímos o PSDB. Precisamos de renovação urgente!"

"Serra é eleito em 2004 em meio a uma crítica pesada à gestão Marta Suplicy. Ele não conclui o mandato, vira governador, se candidata à Presidência, diz publicamente e volta em uma circunstância nociva ao próprio PSDB, porque é posto candidato nas prévias. Isso reflete na falta de mobilização do partido em torno dele", diz a biomédica.

Fatores. Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, o desgaste da polaridade entre PT e PSDB em São Paulo, além do escândalo do mensalão petista e o acordo do PT com Paulo Maluf, também podem estar beneficiando Russomanno. Entre os petistas, o candidato do PRB não cresceu desde o início da propaganda eleitoral, mas manteve os 30% que já tinha desse eleitorado.

Morador de Ermelino Matarazzo, zona leste, o ambulante José Roberto Costa Carvalho, que na juventude militou pelo PT, hoje, aos 40 anos, vai votar no candidato do PRB porque, segundo acredita, "ele trabalha com as pessoas". Segundo o Ibope, Russomanno mantêm bom desempenho nas áreas da periferia onde o PT costuma ter muitos votos. Boa parte do apoio entre petistas a Russomanno vem dos evangélicos como Carvalho. Será a primeira vez que ele não vota no PT. Russomanno conta com apoio direto da Igreja Universal do Reino de Deus, ligada a seu partido.