Título: Vale nega disputa trabalhista e fornecimento de jipes a militares
Autor: Neto, Andrei; Bah, Youssouf
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2012, Economia, p. B1

A Vale, acionista da joint venture VBG, empresa acusada por lideres comunitários da região de N"zérékoré de ter fornecido os veículos usados pelos militares de Guiné, nega qualquer envolvimento no massacre de Zogota. Em respostas enviadas por e-mail ao Estado, a empresa disse “desconhecer o descontentamento quanto à sua política de recrutamento” - insatisfação que, no entanto, é reconhecida pela Embaixada do Brasil. Diante das informações sobre a gravidade do massacre em Zogota, a reportagem do Estado pediu três vezes entrevistas a representantes da empresa, incluindo a VBG, holding da qual a empresa faz parte. A Vale só se manifestou por escrito.

Nas respostas, a empresa negou denúncia feita por moradores e ativistas da região de que o ataque teria sido realizado em veículos da VBGT, argumentando que os carros foram cedidos para os ministros que visitaram o local invadido, em 3 de agosto. O texto reitera que os veículos não foram cedidos para o transporte de militares.

A reunião ministerial ocorreu horas antes do massacre que deixou cinco mortos na madrugada de 4 de agosto. O evento teve repercussão nacional e internacional na África. “Soubemos, pelos veículos de comunicação, que ocorrera uma morte na sexta-feira, dia 3 de agosto, num vilarejo distante cerca de 5 quilômetros da planta da VBG”, diz o texto enviado ao Estado.

Sobre as depredações que antecederam o massacre, a Vale diz que o acampamento da VBG foi invadido por manifestantes, que danificaram instalações. “Por questões de segurança, a VBG realizou a retirada dos empregados com serenidade, de forma ordenada e preservando a integridade física de toda a equipe”, diz a empresa. “Em seguida, a VBG cumpriu o dever de comunicar o ocorrido às autoridades locais”.

A empresa também comenta sua política de contratações na Guiné. Ativistas de Zogota e de N"zérékoré afirma que a companhia desrespeitaria uma convenção firmada entre as mineradoras e o governo da Guiné garantindo a contratação de jovens de etnias da região em que se situam as minas exploradas.

A empresa, porém, fala apenas na contratação de “mão de obra nacional”, sem especificar as etnias contempladas. “A VBG tem como política recrutar mão de obra local, seguindo os padrões já adotados pela Vale em todos os países onde atua”, diz o texto. “Na Guiné, o empreendimento envolve mais de 3 mil pessoas contratadas por empreiteiras a serviço da VBG, sendo 89% de mão de obra nacional”.

A Vale diz ainda que “desconhece qualquer descontentamento em relação à sua política de recrutamento de pessoal”. “Não procede a informação de que houve "recorrentes protestos contra a Vale”, diz a companhia, desmentindo ativistas e organizações não governamentais da Guiné.

Ao Estado, o embaixador do Brasil na Guiné, José Fiúza Neto, fez questão de isentar a Vale de qualquer envolvimento no massacre, no qual vê “motivações políticas”. Mas ele confirma que os protestos são causados “pela demanda por um maior número de empregos” das etnias locais. “Mas é impossível contratar mais jovens locais por falta de mínima qualificação”.