Título: Projetos de mineradoras serão reavaliados pelo governo
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/09/2012, Economia, p. B4

O caso Zogota-Vale intensificou as pressões políticas sobre o presidente de Guiné, Alpha Condé, para que o governo revise os contratos firmados entre o Estado e as mineradoras que atuam no país. Entre esses acordos, está o que permite à VBG, joint venture da qual a Vale participa, para a exploração da mina situada em N"zérékoré. Alheia à hostilidade de parte da opinião pública, a empresa se diz pronta a manter seus investimentos no país.

A reavaliação dos contratos de mineração de Guiné foi uma consequência direta do massacre de Zogota. De acordo com a agência Reuters, acuado pelo escândalo provocado pelas cinco mortes, o governo de Condé anunciou em 8 de agosto a abertura de uma investigação criminal. Além disso, foram tomadas medidas políticas, como o afastamento de autoridades locais e a revisão dos acordos firmados com companhias multinacionais.

O objetivo da iniciativa é "limpar o negócio ambiental", segundo expressão usada pelo próprio governo, incluindo a reanálise do projeto Vale BSGR. "Uma investigação legal foi aberta. O presidente da República e o governo querem assegurar aos cidadãos e aos investidores que todo esforço será feito para descobrir o que aconteceu em Zogota e punir os responsáveis", afirmou o governo em nota oficial.

Outra preocupação do governo é em mostrar à população local por que as compensações financeiras acertadas entre a VBG e o Estado guineano não chegaram às comunidades de N"zérékoré e Zogota. Essa questão permanece como um dos focos de tensão entre os manifestantes e o governo e influencia na animosidade em relação à empresa.

Questionada sobre se a companhia mantém o propósito de permanecer no país após o massacre, a Vale afirmou: "A VBG continua na Guiné, desenvolvendo seu projeto de minério de ferro em Zogota. Há uma discussão sobre o código mineral em curso e a empresa segue aguardando o desfecho dessas discussões". Sobre como pretende evitar novos confrontos, a empresa escreveu: "A VBG continuará atuando com seguranças desarmados e adotando os procedimentos necessários para garantir a segurança de sua equipe".

Segundo dados da Vale, o investimento total do empreendimento em Zogota é de US$ 1,2 bilhão. A VBG alega que empreiteiras a seu serviço empregam mais de 3 mil pessoas, dos quais 89% de mão de obra nacional. Destes, 1.189 empregados são oriundos de vilas do entorno da obra, 647 de N"zérékoré e 383 "naturais de outras regiões do país", mas que vivem no entorno do projeto.