Título: Custo de campanha nos EUA triplica em 20 anos e deve atingir US$ 9,8 bi
Autor: Dias, Cristiano
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2012, Internacional, p. A10

"Duas coisas são importantes na política. A primeira é o dinheiro. A segunda eu não me lembro." A frase do republicano Mark Hanna, senador no início do século 20, ainda soa atual. O custo do ciclo eleitoral americano - somadas as campanhas presidencial, legislativas e locais - deve chegar a US$ 9,8 bilhões, de acordo com estimativa da empresa de pesquisa de mídia Borrell Associates. O valor é três vezes maior do que os US$ 3,2 bilhões que foram gastos 1992.

Entre os responsáveis pela explosão dos gastos, muito além da inflação, estão o aumento dos custos com propagandas e anúncios, especialmente em rádio, sites e TV, e a sofisticação das ferramentas de comunicação, que incluem uma série de novas mídias: websites, podcasts, blogs e redes sociais.

Apesar de a montagem de um site ter custo inicial baixo, a integração de suas ferramentas na organização de campanha consome recursos com a contratação de webmasters, hospedagem, especialistas em som e vídeo, analistas, consultores de imagem, estatísticos e redatores.

O comitê de campanha é outro escoadouro de dinheiro. São computadores, celulares, linhas de telefone fixo, copiadoras, faxes, televisores, um serviço especializado de mailing, call centers, além dos custos com pesquisas de opinião.

Outro fator que contribuiu para o aumento dos gastos foi a competitividade entre os dois partidos. Os republicanos investiram milhões de dólares na montagem de um banco de dados de eleitores, batizado de Voter Vault. Os democratas responderam e gastaram outra fortuna no desenvolvimento de um sistema próprio, o VoteBuilder.

Hoje, o sistema republicano tem armazenado os dados de 168 milhões de eleitores, enquanto o democrata cadastrou cerca de 165 milhões. Ambos são muito mais do que simples arquivos com endereço, telefone e filiação partidária. Em muitos casos, os dois bancos de dados cruzam informações de consumo, hábitos e hobbies que permitem potencializar pedidos de doação, convocar voluntários e aperfeiçoar estratégias de campanha.

Arrecadação. No entanto, se a internet criou novas plataformas que encareceram a disputa, ela também facilitou a arrecadação. Em 2008, o presidente Barack Obama soube usá-la para obter US$ 500 milhões, a maioria de pessoas que doaram menos de US$ 200.

Nesta eleição, os democratas já não têm a mesma vantagem, apesar de o perfil de doadores ter se mantido igual. Embora Obama tenha arrecadado US$ 587,8 milhões até julho - os dados de agosto não foram divulgados -, ele foi superado por Mitt Romney nos últimos três meses.

Para tentar recuperar terreno, a campanha de Obama anunciou, em agosto, que aceitaria doações por mensagem de texto. Uma semana depois, contudo, os republicanos fizeram o mesmo.

Os mecanismos de arrecadação também melhoraram após uma decisão da Suprema Corte, de 2010, que autorizou a criação de Super PACs, grupos de apoio às candidaturas autorizados a receber doações ilimitadas.

O primeiro resultado prático dessas mudanças é que a eleição ficou mais cara. Na corrida presidencial de 1980, o republicano Ronald Reagan e o democrata Jimmy Carter gastaram juntos US$ 92,3 milhões, menos do que Obama torrou só em julho.

A segunda consequência visível é uma enxurrada de anúncios nos meios de comunicação. Segundo o do instituto Kantar Media, Romney e Obama gastarão cerca de US$ 730 milhões em propagandas na TV nos próximos 60 dias - o dobro do que já foi gasto até agora.

Segundo pesquisas, 90% dos americanos já decidiram em quem votar. Além disso, 32 Estados permitem a antecipação do voto, geralmente pelo correio ou por meio de cédulas depositadas antes da votação. Em 2008, 30% dos eleitores votaram com antecedência. Na prática, isto significa que a montanha de recursos será consumida na tentativa de obter o voto dos 10% de indecisos e o mais rápido possível.

No entanto, muitos analistas afirmam que o impacto do dinheiro vem diminuindo rapidamente. David Hill, consultor republicano, acredita que atrair a atenção do eleitor tornou-se uma tarefa complicada. "Apesar da escalada dos preços dos anúncios de TV, eles têm sido cada vez menos assistidos", disse.

Em artigo recente, o colunista David Brooks, do New York Times, também mostrou desconfiança. "As eleições estão saturadas. Nas disputas mais apertadas, todos os candidatos conseguem uma quantidade enorme de dinheiro e a utilidade marginal de cada novo dólar gasto é zero", escreveu. "Hoje, o dinheiro quase nunca estabelece a diferença entre a vitória e a derrota."