Título: BCs emergentes fazem alerta a países ricos
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2012, Economia, p. B7

Em reunião na Basileia, bancos centrais de países emergentes dizem que vão proteger suas moedas contra ações "ilimitadas" dos EUA e da Europa

Os bancos centrais dos países emergentes alertaram as nações ricas que vão defender suas moedas diante da ação da Europa e dos Estados Unidos de ampliar a injeção de recursos para tentar frear a crise econômica. Na sexta-feira, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou "compras ilimitadas" de papéis das dívidas de países com problemas.

O assunto fez parte da reunião de representantes dos principais BCs - entre eles, Alexandre Tombini, presidente do BC brasileiro -, na sede do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia, e voltou a escancarar a falta de coesão no comando da economia mundial. O BIS alertou que os mecanismos de defesa dos emergentes, como controle de capital, ameaçam "fragmentar" o sistema financeiro. Mas admitiu que a injeção de liquidez pelos ricos fez os empréstimos nos emergentes em dólar aumentar 20% em plena crise, atingindo US$ 7 trilhões.

Há apenas uma semana, o diretor-gerente do BIS, Jaime Caruana, fez um apelo em Jackson Hole, nos EUA, por uma maior coordenação dos BCs em termos de políticas monetárias. De um lado, alertou para os impactos globais de ações como a do BCE. Mas também destacou o risco cada vez maior de as economias emergentes tomarem medidas consideradas nacionalistas.

Ontem, os xerifes das finanças globais deixaram claro que a coordenação era uma tarefa quase impossível. "Cada país emergente saiu em defesa de sua moeda", contou ao Estado um dos participantes do encontro. "A defesa era tão veemente que parecia que queriam convencer a Europa de que isso era de interesse da zona do euro", destacou a fonte, em condição de anonimato.

Queixa. Os emergentes se queixam de que a solução encontrada por europeus e americanos para lidar com a crise é, na realidade, injeção de recursos. Como essas economias estão estagnadas e a taxa de juros é negativa, a liquidez acaba sendo dirigida aos mercados emergentes, onde os juros são maiores. O resultado é uma pressão sobre o câmbio.

Cálculos do BIS mostram que se nos EUA os empréstimos continuarem baixos, o que faria o governo a pensar em injetar mais dinheiro, os créditos em dólar pelo mundo vão atingir US$ 7 trilhões, 20% mais que em 2008. Uma mudança na taxa de juros de um ou outro lado teria um impacto substancial, assim como o controle de capital ou a injeção de mais dinheiro.

Segundo os emergentes, o perigo não é apenas a chegada de capital em suas economias, mas uma eventual fuga em massa nos próximos meses, o que desestabilizaria o que hoje é a única fonte de crescimento da economia internacional. O BIS admite o amplo impacto que isso terá para economias emergentes e conhece as dificuldades em equilibrar decisões nacionais e consequências globais.

Mas o BIS também faz um alerta aos mercados emergentes. Se os BCs dessas economias "hesitarem" em aumentar juros para evitar uma entrada ainda maior de capital, o uso de barreiras e controle de capital podem ser prejudiciais. A ideia é que cada política nacional de controle de capital poderia fazer sentido domesticamente. Mas, juntas, ameaçam o sistema internacional e abrem a possibilidade de levar a um "sistema financeiro fragmentado".