Título: Há desinteresse de muitos Estados em investir nessa política
Autor: Lira, Davi ; Balmant, Ocimara
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2012, Vida, p. A17

Apesar dos esforços para a universalização do atendimento das crianças nas séries iniciais a partir dos anos 1990, não se pode afirmar que caminhamos na direção de não precisarmos mais da Educação de Jovens e Adultos no País.

Existe uma tendência a uma redução nas matrículas nas séries iniciais da EJA, uma vez que a grande maioria das crianças inicia o ensino fundamental. Mas o mesmo não ocorre no que se refere à conclusão da educação básica. Analisando os dados do Censo Escolar, observa-se a evasão de muitos jovens, especialmente a partir dos anos finais do ensino fundamental. Com isso, vemos crescer cada vez mais a presença de jovens na EJA. Em 2010, 51% dos matriculados na EJA no Brasil tinham entre 18 e 24 anos e 60,7% dos matriculados no ensino fundamental 2 tinham entre 15 e 24 anos.

Isso não quer dizer que não existam expressivos contingentes populacionais que não concluíram a educação básica nas faixas etárias mais avançadas. Significa apenas que esses não estão na escola. Por quê? As razões são múltiplas. Faltam políticas que facilitem o acesso à escola, tais como transporte, políticas de saúde e espaço para deixar os filhos. Há a inadequação da escola para atender esta população, uma vez que dificilmente produz currículos próprios para o segmento e insiste em manter apenas escolas noturnas com extensas jornadas. Há desinteresse de muitos Estados em investir nessa política, mantendo a EJA em posição marginal no desenho da política educacional.

Persiste ainda o estigma do fracasso escolar, como se aqueles que estão fora da escola fossem os que perderam a oportunidade na chamada "idade própria". A esses restaria a possibilidade de ocupar postos de trabalho menos qualificados ou serem, de fato, os excluídos da sociedade. Essa visão não leva em conta que estamos falando dos milhões de brasileiros que permanecem excluídos e poderiam ocupar os tais postos de trabalho qualificados que surgem em um contexto de desenvolvimento econômico.