Título: BC vê inflação acima da meta até 2014
Autor: Cucolo, Eduardo ; Froufer, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2012, Economia, p. B3

Ata do Copom chama a atenção para efeito da alta das commodities globais nos preços internos; mercado se divide sobre novo corte da Selic

A surpreendente alta dos preços das commodities, em razão de problemas climáticos no Brasil e no mundo, levou o Banco Central a admitir uma inflação mais alta este ano do que a esperada inicialmente.

A expectativa, no entanto, é a de que o enfraquecimento da economia global, causado pela crise, ajude a reverter esse movimento e a de que os preços recuem no "médio prazo".

A avaliação de que o BC conta com um repique, mas se mostrou confortável para lidar com um quadro mais ameno no futuro, foi expressa na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que cortou a taxa básica de juros na semana passada de 8% para 7,5% ao ano.

Permanece no mercado financeiro, no entanto, a dúvida sobre os próximos passos do BC na sua política de juros. Alguns analistas avaliam que o ciclo de corte iniciado em agosto de 2011 já chegou ao fim. Outros dizem que será possível reduzir a taxa em mais 0,25 ponto porcentual, o que vai depender dos indicadores econômicos que serão divulgados até a próxima reunião do Copom, em outubro.

No documento, o BC repete a afirmação da semana passada de que, qualquer "ajuste adicional" nos juros será feito "com máxima parcimônia". A instituição não divulga suas projeções de inflação abertamente, mas diz que as previsões para este ano, 2013 e primeiro semestre de 2014 estão acima do centro da meta de 4,5%. A estimativa para 2012 chamou atenção, pois foi a única a subir desde a ata de julho.

"O Copom ressalta que, no cenário central com que trabalha, a inflação tende a se deslocar na direção da trajetória de metas", diz o documento. O BC pondera, no entanto, que essa queda não será linear. Ou seja, mesmo que suba em algum momento, em seguida vai recuar.

Segundo o BC, desde a reunião do Copom de julho, a menor oferta elevou o preço dos produtos agrícolas, que afetou a inflação no Brasil. Mas esse choque deve ser menos intenso e menos duradouro do que o ocorrido em 2010 e 2011 e "tende a se reverter no médio prazo".

Para o governo, esses preços vão cair por causa da fragilidade da economia mundial e da redução nas metas de crescimento da China, um dos maiores consumidores desses produtos. "Dessa forma, apesar de manifestar viés inflacionário no curto prazo, o cenário internacional se mostra desinflacionário no médio prazo." Sobre a crise, a avaliação do governo é de que não se agravou, mas que o crescimento global continuará baixo por um período prolongado. No Brasil, a recuperação da atividade econômica é gradual, diz o Copom, que na ata anterior havia usado a expressão "bastante gradual".

Para os economistas do Itaú, a mudança de tom revela que a instituição está mais confiante com a retomada da economia. "O Copom deixa espaço para uma redução adicional dos juros na próxima reunião e sinaliza a intenção de mantê-los em patamares relativamente baixos por um longo período", diz o banco, que prevê corte de 0,25 ponto em outubro.

Para a LCA Consultores, a ata tende a reforçar apostas de que o ciclo de redução da taxa foi encerrado semana passada.