Título: BNDES mantém previsão de liberar R$ 150 bilhões este ano
Autor: Neder, Vinicius ; Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2012, Economia, p. B3

Entre janeiro e julho, os empréstimos somaram R$ 67,9 bilhões, queda de 1,87% ante igual período do ano passado

A expectativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de liberar em torno de R$ 150 bilhões em empréstimos neste ano está mantida, apesar do primeiro semestre de economia praticamente estagnada. O presidente do banco, Luciano Coutinho, confirmou a perspectiva ontem, ao comentar o desempenho de janeiro a julho, quando o BNDES liberou R$ 67,9 bilhões, queda de 1,87% frente igual período de 2011.

Coutinho já identifica uma retomada na atividade econômica, com recuperação ao longo do segundo semestre, puxada pelos investimentos. O discurso otimista, porém, precisará ser respaldado por um forte crescimento na liberação de empréstimos até o fim do ano. Para chegar aos R$ 150 bilhões os desembolsos de agosto a dezembro terão de subir 17,8% ante igual período de 2011.

"Há uma sazonalidade. O primeiro semestre é (normalmente) um pouco mais fraco e o segundo, um pouco mais forte. Neste ano, a diferença será um pouco maior", afirmou Coutinho, em entrevista na sede do banco, no Rio.

Em julho, foram liberados R$ 14,322 bilhões, crescimento de 5,6% ante igual mês de 2011. Outro indício da retomada estaria nos dados da Finame, linha de crédito para máquinas e equipamentos. Agosto registrou média diária de R$ 178,1 milhões em pedidos de liberação, a mais elevada do ano.

A alta de 34,3% nas consultas, que ficaram em R$ 138,7 bilhões de janeiro a julho, também sinalizaria para uma recuperação. A consulta é o primeiro passo do pedido de empréstimo e sinaliza a disposição do empresário em investir.

Cálculos do economista Gabriel Leal de Barros, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, apontam para uma estimativa de R$ 138,9 bilhões liberados neste ano, valor igual ao de 2011.

A estimativa tem como base a comparação das consultas com os recursos liberados. Os cálculos levam em conta a média dos dois anos anteriores.

Considerando dados de janeiro a maio deste ano, 63% do valor consultado resultaram em empréstimos.

A relação entre consultas e liberações, no entanto, depende da natureza de cada setor e projeto, segundo a assessoria de imprensa do BNDES. Além disso, não há relação direta entre a liberação do empréstimo e a consulta.

Setor. No desempenho setorial, a indústria se recuperou. No primeiro semestre, o setor recebeu empréstimos em valor 18,9% menor do que no primeiro semestre de 2011. No acumulado de janeiro a julho, a queda foi revertida para alta de 4%.

Na avaliação do economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, o processo de retomada segue a retomada de projetos de investimento adiados por conta do ciclo econômico negativo, com a crise internacional e questões internas afetando o crescimento. "O efeito das medidas do governo e a melhoria no ciclo econômico impulsionarão a atividade", ponderou.

Para o economista Mansueto Almeida Jr., pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o problema é que as medidas são temporárias. "Crédito subsidiado, com juros negativos, não é uma coisa que o governo pode dar por oito ou dez anos", disse.

O setor de infraestrutura, classificado separadamente pelo BNDES, recebeu R$ 22,843 bilhões em empréstimos, queda de 21% frente os sete primeiros meses de 2011. O setor de comércio e serviços desembolsou R$ 16,822 bilhões, 33% a mais, segundo o BNDES. A agropecuária, com R$ 5,354 bilhões sacados de janeiro a julho, teve desempenho 6% inferior a 2011.