Título: Plataformas democrata e republicana acentuam diferenças entre os partidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2012, Internacional, p. A12

A afobação com a qual os democratas alteraram sua plataforma na convenção de Charlotte, na quarta-feira, para incluir uma menção a Deus e a Jerusalém como capital de Israel, mostra que o texto, apesar de mero esboço de ideias, tem grande importância política. É por meio dele que os dois maiores partidos dos EUA marcam suas diferenças.

As mais visíveis são as questões sociais. Os democratas defendem a opção pelo aborto, o casamento gay e os direitos das mulheres. Os republicanos não fazem referência à igualdade de gêneros, defendem uma emenda constitucional que proíba o aborto e apoiam a Lei de Defesa do Matrimônio, de 1996, pela qual nenhum Estado é obrigado a reconhecer o casamento entre pessoas do mesmo sexo realizado em outro Estado.

A plataforma democrata se opõe à privatização do sistema de saúde e à distribuição de vouchers do Medicare (programa de saúde gratuita a aposentados). Os republicanos são contra a Lei de Proteção ao Paciente, conhecida como "Obamacare", que tenta reduzir o número de americanos sem plano de saúde, dando subsídios e créditos fiscais a empregadores e indivíduos para aumentar a taxa de cobertura.

Com relação à imigração, os democratas defendem a legalização da maioria dos 12 milhões de clandestinos dos EUA. A plataforma republicana chama o plano de "anistia" e acusa esses imigrantes de "violarem a lei" ao entrarem ilegalmente no país.

Outra diferença fundamental é na economia. Os republicanos defendem a isenção fiscal para os americanos que ganham mais de US$ 250 mil por ano. É a teoria do trickle-down, que estimula os grandes negócios que criam empregos e espalham prosperidade. O programa do partido abomina o Estado de bem-estar e os programas sociais, ao contrário dos democratas, que acreditam que o governo deve ajudar a combater a desigualdade e defendem a tributação progressiva, pela qual os mais ricos pagam mais e os pobres, menos.

A plataforma democrata busca ainda reduzir a dependência dos EUA do petróleo, resiste a perfurações em reservas naturais e promete investimentos em energia limpa: hidrelétrica, eólica, solar e biocombustíveis. Os republicanos defendem a exploração de petróleo em território americano, incluindo em zonas de proteção ambiental.

O meio ambiente também é visto de maneira diferente. Na plataforma democrata, as mudanças climáticas são "reais, urgentes, sérias" e exigem uma política multilateral para reduzir a emissão de gases estufa. Já a única menção às "mudanças climáticas" no programa republicano (eles colocam a expressão entre aspas) é para ridicularizar o fato de Obama considerá-las uma "ameaça à segurança nacional".

Os poucos pontos em comum estão em política externa: ambos defendem uma solução de dois Estados em Israel, apoiam a Primavera Árabe, se opõem ao programa nuclear iraniano e querem manter boas relações com a China. As duas plataformas descrevem a Venezuela como uma "ameaça crescente à segurança dos EUA", mas quando o assunto é Cuba, as diferenças voltam.

Enquanto os democratas elogiam o afrouxamento das sanções - o fim das restrições de viagens para os cubano-americanos e a permissão de envio de dinheiro -, os republicanos condicionam qualquer relaxamento do embargo à legalização de partidos políticos, à liberdade de imprensa e eleições livres.

Os dois partidos também discordam em outros temas internacionais importantes. Os democratas defendem o multilateralismo na ONU, enquanto os republicanos são soberanistas, criticam tratados internacionais "obscuros" e rejeitam a jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Eles também são contra os cortes dos gastos com defesa. "Apenas nossa capacidade de exercer um poder militar esmagador pode deter os inimigos dos EUA", diz o programa republicano. Já os democratas relacionam o poder militar com a saúde econômica do país.

"Nada que esteja presente ou ausente nessas plataformas é casual ou acidental. Elas foram redigidas com extremo cuidado e descrevem caminhos totalmente diferentes", disse o analista Jeffrey Laurenti, do centro de estudos Century Foundation. / AP